Depois de 12 dias de guerra, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chega em Israel após a explosão de um hospital localizado na Faixa de Gaza para realizar possíveis negociações entre os países envolvidos. Ainda não há confirmação de qual lado é culpado pelo ataque e toda informação deve ser interpretada com desconfiança até ser comprovada. Alberto Pfeifer, professor coordenador do Grupo de Análise de Estratégia Internacional da Escola de Segurança Multidimensional (Esem) do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, explica a presença norte-americana e os antecedentes da guerra.
Visita de Joe Biden
De acordo com Pfeifer, a visita do presidente norte-americano acontece em um momento arriscado e vulnerável, em que Biden decide voar para o Oriente Médio sem grandes preparações prévias. Além disso, seu encontro com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, foi confirmado, o que reforçou o histórico apoio estadunidense.
Até este momento do conflito, nenhum dos dois lados operou ainda para uma distensão do conflito por meio de canais de diálogo eficazes para que se chegue a alguma moderação no emprego das forças usadas. Dessa forma, a posição dos Estados Unidos é de interlocução entre as partes, ainda que esteja em uma posição frágil.
Antecedentes do ataque
As tensões entre Israel e Palestina são antigas e os estudiosos imaginavam um possível ataque entre eles. Entretanto, o conflito mostrou-se muito mais intenso. O sistema de vigilância das fronteiras de Israel, considerado um dos mais eficientes do mundo, mostrou-se frágil, segundo Pfeifer.
“Todo sistema tem vulnerabilidade que pode ser explorada pelos interessados em transpassá-la, e o Hamas agiu com extrema argúcia e capacidade técnica e tecnológica quando, no primeiro momento, neutralizou os elementos de monitoramento – câmeras e torres de comunicação – e negou a Israel o pleno tráfico de comunicação”, pontua. A atuação do Hamas, portanto, evitou que a atuação de Israel fosse síncrona ao ataque. Para o professor, Israel precisa revisar esse sistema de defesa, já que ficou constatada uma enorme debilidade na cadeia de informações e tomada de decisões do país.
Antes do ataque se iniciar, houve um deslocamento de contingente palestino para a Cisjordânia, motivado por questões político-simbólicas: a aproximação da Arábia Saudita com Israel, 50 anos da Guerra do Yom Kippur – um conflito militar ocorrido em 1973 entre alguns Estados árabes, liderados pelo Egito e Síria, e Israel – e a debilidade interna de Netanyahu, marcada pelo embate entre ele e parte da sociedade israelense. Essa confluência de fatores permitiu que o Hamas tivesse mais confiança para perpetuar essa operação terrorista.
Pfeifer acrescenta que Israel é um Estado nacional; portanto, a ideia de guerra é um pouco distorcida, por não ser um conflito entre Estados Nacionais, e sim entre um país e um movimento político criminal. “Outro fator importante é que o Hamas não é só terrorismo com motivação política, mas uma organização criminal. É uma quadrilha de delinquentes, que pratica crimes como lavagem de dinheiro, tráfico de armas e tráfico de drogas.”
Participação de outros países
Segundo Pfeifer, já existe o envolvimento indireto e subterrâneo de outros países. A questão, entretanto, é se estes entrarão em conflito direto com Israel, o que configuraria uma guerra de fato. Para o Irã, por exemplo, não existem ganhos políticos com o conflito, já que o país está tentando estabelecer vínculos com o Ocidente, além de possuir relações de cooperação com a China e a Rússia.
“O grupo político Hamas estava encurralado em Gaza e achou que o momento era adequado para realizar aquela operação. Mas transladar essa lógica para um Estado Nacional é um jogo um pouco mais complexo. Então, a probabilidade de outros Estados Nacionais entrarem em conflito direto contra Israel, neste momento, é mais remota do que parece” explica. O que haverá, como aponta o professor, é uma confrontação no plano das organizações internacionais entre os países árabes, que não podem, por princípio, abandonar a causa palestina. Isso também repercutirá na relação do Irã, Hezbollah e Hamas, um eixo xiita.
Pfeifer também acredita que a Rússia terá um papel importante nessa lógica geopolítica e militar, já que o país é um grande aliado da Síria – que está em guerra com Israel, possui um grande controle do Líbano e tem boa relação com o Irã. “Pode ser que, entre Rússia e Estados Unidos, surja uma avenida de diálogo que resulte numa troca entre uma escalada mais controlada do conflito no Oriente Médio e uma desescalada do conflito na Ucrânia, porque a atenção do Ocidente vai para dois fronts distintos: Oriente Médio e Ucrânia”, explica Pfeifer. Essa divisão pode significar uma escassez de recursos e uma incapacidade do Ocidente de lidar com dois conflitos ao mesmo tempo, o que pode fortalecer a posição de Putin no cenário internacional.
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