As pessoas não veem as cores da mesma maneira. É o que esta coluna do professor Eduardo Rocha enfatiza ao destacar, por exemplo, a questão do daltonismo, sem mencionar o fato de que outras variações na percepção de cores são conhecidas da ciência e da medicina. “Sabemos hoje que os nomes das cores nas diferentes culturas vêm de determinados objetos que faziam parte do cotidiano e, assim, foram incorporados ao idioma local.” Um exemplo é o azul do árabe, que vem da pedra lápis-lazúli. Da mesma forma, um dos primeiros pigmentos sintéticos conhecidos tinha também a cor azul e foi muito valorizado pela realeza europeia da época. “Por outro lado, tanto povos asiáticos como da África e indígenas da América do Sul tinham no espectro do azul e do verde designações iguais, muitas vezes muito semelhantes, fazendo com que a mesma palavra nomeasse o que hoje nós entendemos aqui por cores distintas como o azul e o verde para essas populações”, acrescenta.
No caso da interpretação das cores, Rocha observa que a linguagem influenciou as artes e a literatura com a sua riqueza e nuances de informações. “Os exemplos mais citados são a Odisseia, de Homero, que curiosamente, ao descrever essa saga, faz referência ao mar, ao oceano sem mencionar algo como a cor azul, sugerindo uma dificuldade do autor em nomear essa cor”, o que acontece também com textos religiosos antigos presentes na Bíblia e no Alcorão, que não mencionam a cor azul. “A música Trem das Cores, de Caetano Veloso, revela uma sensibilidade poética, musical e também para a percepção de cores que ficam lindamente registradas nessa música. Assim, a visão de cores é primariamente captada pelos olhos, mas o seu registro sensorial, a sua interpretação possuem diferenças entre pessoas e grupos populacionais.” São observações que sugerem que a percepção sensorial e o pensamento conceitual precedem a expressão na linguagem e nas artes.
Fique de Olho
A coluna Fique de Olho, com o professor Eduardo Rocha, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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