Desde que a primeira cidade surgiu, a ideia de reunir muitas pessoas em um mesmo espaço se espalhou rapidamente, dando origem às grandes civilizações. Mas juntar uma população cada vez maior em um mesmo ambiente, sem tomar uma série de cuidados, tais como ter um sistema de saneamento básico, por exemplo, também deu origem a um dos piores males que a humanidade já enfrentou: as epidemias.
Com isso em mente, o Momento Cidade desta semana procurou professores e pesquisadores da USP para responder a pergunta: a cidade de São Paulo está preparada para enfrentar uma epidemia?
Para o professor Marcos Boulos, do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina (FM) da USP, “é muito difícil falar que uma cidade grande, com as dimensões de São Paulo, esteja preparada para enfrentar epidemias”. De acordo com o especialista, a cidade hoje não estaria preparada para uma epidemia de infecções respiratórias, por exemplo.
“Grandes centros urbanos, principalmente centros urbanos empobrecidos, onde as pessoas vivem muito próximas, às vezes muitas pessoas numa mesma casa em condições habitacionais inadequadas, facilitam as transmissões respiratórias”, pontua o docente.
De acordo com ele, uma das medidas para se combater essa ameaça constante é a criação de melhores políticas públicas. “Com a política pública adequada você faz com que as pessoas tenham as informações para evitar as doenças. A política pública, de uma certa maneira, obriga que os entes públicos tomem conta do seu pedaço”, sumariza.
São Paulo já enfrentou grandes epidemias, com consequências severas para a cidade. O assunto foi tema de um estudo de pós-graduação da especialista Anna Cristina Rodopiano, historiadora e pesquisadora do Centro de Memória da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.
O trabalho mapeou como uma epidemia de gripe espanhola, a maior da história, apavorou os moradores de São Paulo no começo do século 20. “A epidemia de gripe espanhola é considerada até hoje a maior epidemia da história, ela atingiu de 80% a 90% da população do planeta, contabilizando os enfermos, um número estimado de 20 a 40 milhões de mortes”, explica Anna.
Para a especialista, a organização da sociedade naquele momento foi essencial no socorro aos doentes. “A epidemia teve seu ápice e teve o seu término em torno de um mês e meio, dois meses de uma forma extremamente rápida e assustadora; o que foi determinante, naquele momento, não para evitar, porque aí o contágio já era inevitável, mas para fazer o acolhimento e prestar assistência, foi a organização da sociedade”, relembra ela.
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Ficha técnica
Reportagem: Denis Pacheco e Maria Paula Andrade
Edição: Rafael Simões, Beatriz Juska e Paulo Calderaro