A nova unidade de Hematologia do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP, com quartos individuais e um sistema avançado de prevenção de doenças infecciosas, comemora um ano. Neste período, foram atendidos 136 transplantes de medula óssea com nível de infecção muito abaixo do que havia nos últimos anos, como explica Vanderson Rocha, chefe da Hematologia e Terapia Celular do HC, ao Jornal da USP no Ar.
A unidade já está testando o tratamento de imunoterapia com as células Car T. De acordo com o chefe da Hematologia e Terapia Celular do HC, a técnica já acontece na China, Estados Unidos e Europa, com a produção de células com custo em torno de US$ 400 mil, ou R$ 2 milhões. Os estudos clínicos são pioneiros no Brasil, mas apresentam eficácia no mesmo nível de iniciativas internacionais, vide sucesso na aplicação da terapia no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.
A divisão, em conjunto com a USP Ribeirão Preto, desenvolve uma nova metodologia de terapia celular que beneficia casos de câncer do sangue, como linfomas, leucemias e os recentes mielomas. Os outros tipos de câncer ainda estão em experimentação e os resultados não são tão animadores quanto das doenças do sangue, provavelmente porque nos tumores chamados sólidos é preciso fazer com que as células entrem dentro do tumor e isso ainda não é possível. “Por enquanto, no Brasil, temos protocolo somente para linfomas, mas, no futuro próximo, possivelmente para leucemia”, afirma Rocha.
O paciente Vamberto Luiz de Castro foi tratado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP com imunoterapia através de células Car T. O desafio agora é ampliar as condições para que se torne um tratamento disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), como explica o professor da FMRP, Dimas Tadeu Covas, coordenador do Centro de Terapia Celular.
A pesquisa que possibilitou esse avanço teve início há quatro anos e meio, logo quando foram publicados os primeiros trabalhos nesse assunto. Agora, mais quatro pacientes foram incluídos nos estudos e estão na fase de produção das células Car T, algo um tanto demorado, mas que deve criar uma base de dados para a próxima fase do estudo clínico e que permitirá desenvolvê-lo verdadeiramente como um produto. “Com esses dados, haverá condição de submeter a apresentação aos órgãos competentes (como a Anvisa) em estudo clínico, que compara dados da própria literatura com dados do remédio padrão que seria comum”, explica Covas. Ele enfatiza que isso prevê infraestrutura, investimento e apoio governamental.
A escolha dos pacientes advém daqueles que não têm mais opções terapêuticas. Vamberto de Castro, no caso, foi tratado com o que estava disponível antes, mas não respondeu a nenhum dos métodos e só recebia tratamentos paliativos. Depois disso, a imunoterapia individualizada entrou em ação. Hoje, a doença não se manifesta mais e o paciente está em franca recuperação. “Então, demora para ser feito, mas atinge um resultado espetacular”, afirma o professor, que completa: “A imunoterapia celular é muito mais próxima da biologia do paciente, muito mais natural e fisiológica”.
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Apresentação e produção: Roxane Ré
Edição de Som: Cido Tavares