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O Ambiente é o Meio desta semana conversa com a biomédica Nicole Blanco Bernardes, professora da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), sobre o uso de agrotóxicos e os problemas de saúde entre agricultores familiares. Nicole desenvolveu uma pesquisa com os trabalhadores familiares das cidades de Capitólio e Pimenta, no Estado de Minas Gerais, onde “não tem indústria” e as pessoas vivem da agricultura familiar.
Em Pimenta, conta a professora, “o índice de suicídio estava muito alto entre os jovens” e “muitos pacientes oncológicos estavam fazendo tratamento fora do município”. Pesquisas na água e nas rochas da região foram feitas, mas não encontraram respostas. Para entender a situação alarmante, junto com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater), Nicole desenvolveu projeto de pesquisa nas duas cidades, que “têm unidades básicas de saúde só de pessoas que trabalham na agricultura familiar. Com isso, conseguimos, por exemplo, ter acesso a pessoas que só trabalhavam na agricultura familiar, diferenciando-as do restante da população da cidade em si, que não ficava exposta”.
O projeto foi elaborado “porque, muitas vezes, as pessoas tinham sintomas relacionados ao suicídio, como dor de cabeça, irritabilidade e insônia”, sintomas difíceis de serem relacionados aos agrotóxicos. “As pessoas nunca imaginam que usar agrotóxico vai causar irritabilidade, depressão, porque são sintomas que, muitas vezes, vão demorar muitos anos para se manifestar. A não ser quando há uma intoxicação aguda, um acidente.”
Os grupos que não estão relacionados ao agrotóxico, demonstrou o estudo, não apresentaram alteração nos exames que foram coletados, já os grupos de agricultores que usam agrotóxicos apresentaram queixas de dores de cabeça, insônia, irritabilidade, coceira na pele, ardência nos olhos, dermatite e houve também “uma morte súbita de uma mulher que não tinha nenhum diagnóstico ou problema que justificasse a morte”. Com os exames e dados coletados, os pesquisadores conseguiram “relacionar, com evidências, que o agrotóxico estava prejudicando a saúde daqueles trabalhadores”. Contudo, Nicole adverte que não podem afirmar “categoricamente que os suicídios da cidade têm a ver só com o uso de agrotóxico, mas vamos falar de uma grande porcentagem relacionada ao uso, porque o agrotóxico estava causando depressão há muitos anos”, enfatiza a professora.
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