Comunidade do Campus da USP, em Piracicaba, busca caminhos para incentivar e promover a diversidade e a inclusão

Além de dois coletivos formados por estudantes, a centenária Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, instalou recentemente a Comissão de Inclusão e Pertencimento (CIP) e tem, desde o ano passado, a primeira mulher no cargo de diretora da unidade

 Publicado: 28/06/2024

Texto: Antonio Carlos Quinto

Arte: Jornal da USP

Aos 123 anos de existência, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq)  da USP, em Piracicaba, conta com iniciativas recentes em diversidade e inclusão – Fotomontagem de Jornal da USP com imagens de Marcos Santos/USP Imagens e pikisuperstar/Freepik

Na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, os esforços para se estabelecer ações de diversidade e inclusão podem ser considerados recentes. A unidade é uma das fundadoras da Universidade e, desde o ano passado, vem mostrando um novo direcionamento para incentivar a diversidade e a inclusão.

Com seus 123 anos de existência, a Escola tem, pela primeira vez, uma mulher na sua direção. A professora Thais Maria Ferreira de Souza Vieira assumiu o cargo de diretora em janeiro de 2023, com mandato até janeiro de 2027. Além disso, em dezembro do ano passado tiveram início as atividades da Comissão de Inclusão e Pertencimento (CIP), instituída em setembro do mesmo ano por orientação da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP). A CIP é presidida pela professora Heliani Berlato dos Santos.

As professoras Thais Maria e Heliani Berlato mostram disposição para apoiar as duas únicas iniciativas de estudantes da escola que buscam se organizar em prol da diversidade e inclusão: os Coletivos Baobás e Integra. Mas houve na Esalq um grupo feminista, o Coletivo Feminista Raiz Fulô que atualmente está inativo.

Trabalho de mediação

Além de total apoio aos dois Coletivos da Esalq, a CIP vem atuando, desde a sua instituição, num trabalho de mediação. “Nestes primeiros momentos estamos filtrando as diversas demandas que recebemos, mas o trabalho inicial também envolve o levantamento do perfil dos ingressantes, principalmente os que têm necessidades específicas”, descreve a professora Heliani Berlato, destacando ainda que “há muita procura para se falar de questões como assédio, discriminação e homofobia”.

A professora, que é do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq, conta que em seus 11 anos na escola sempre atuou nessas questões. “Tivemos aqui o programa Inclua, que prestava assistência aos grupos minoritários da Esalq. Considero que a CIP surge bem mais fortalecida em relação ao Inclua, pois tem mais autonomia para dialogar com os órgãos de todas as instâncias da escola e para encaminhar decisões”, destaca.

Heliani Berlato - Foto: Reprodução/Esalq-USP

Cláudia Ferreira dos Santos Nogueira é funcionária administrativa da Esalq e atua como representante do setor técnico administrativo e secretária da CIP. Além dela, o grupo é formado por cinco docentes titulares, um representante discente e um representante da Diretoria de Atendimento da Prefeitura do Campus Luiz de Queiroz. Como informa Cláudia, a CIP também é responsável pela Comissão de Heteroidentificação da Esalq.

“Em março deste ano, o grupo foi constituído e composto por três titulares e três suplentes, sendo estes docentes e servidores técnico-administrativos. Como característica, são pessoas de diversas raças para que não existam influências”, explica. Segundo Cláudia, por orientação da PRIP USP, há ainda uma comissão recursal composta por três titulares e três suplentes. “A comissão já atuou em três oportunidades”, lembra a secretária. A professora Heliani ressalta que há menos de um mês a equipe também conta com uma psicóloga e uma assistente social, ambas da PRIP.

Ações educativas

Heliani explica que a CIP vem cumprindo seu papel principalmente na escuta e, depois, no encaminhamento de algumas denúncias que ocorrem no campus da Esalq. Mesmo lembrando que havia um certo medo de possíveis retaliações, a docente afirma que esse sentimento tem diminuído.

Ela conta que, desde o início das atividades da CIP, os casos que chegaram à comissão foram de estudantes com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtorno do Espectro Autista (TEA), casos de assédio, discriminação, homofobia e constrangimentos, e bullying. “Temos ouvido denúncias e relatos e temos participado os docentes. Aliás, boa parte deles tem buscado informações para melhor lidar com tais situações”, constata a docente.

Para tanto, a CIP está se organizando para levar à comunidade da Esalq ações educativas. “Consideramos que sejam prioritárias. E para isso, estamos programando cursos de letramento em todas as esferas que constituem a diversidade e a inclusão. Deveremos ministrar um primeiro curso para toda a comunidade já neste segundo semestre”, anuncia Heliani.

A docente destaca que ainda há na Esalq resistências no perfil docente, e até mesmo em alguns discentes, para entender que os grupos minoritários devem ser aceitos.

Cláudia Ferreira dos Santos Nogueira - Foto: Arquivo pessoal

“Posso dizer que há uma resistência geracional. Afinal, trata-se de uma escola centenária e seu corpo docente é composto, predominantemente, de homens brancos”

Contudo, a professora se mantém otimista e tem percebido que, apesar das resistências, a comunidade como um todo vem se abrindo. “Os cursos de letramento irão desempenhar um papel fundamental”, acredita. Heliani tem como seu termômetro para manter tal otimismo a Congregação da Esalq. O que antes, segundo ela, era um pensamento dividido em relação a temas que incluíam a diversidade e a inclusão, “hoje, a maioria na Congregação já está sintonizada com os temas.”