O Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP acaba de ganhar mais uma coleção e ampliar seu material de pesquisa. Trata-se do acervo do diplomata brasileiro Mário Calábria (1923-2012), que foi secretário do diplomata e escritor mineiro João Guimarães Rosa na Embaixada do Brasil na Alemanha.
Calábria nasceu em 1923 na cidade de Corumbá, atual Mato Grosso do Sul, e morreu em 2012 em Berlim, na Alemanha. Como diplomata, vivenciou a Guerra Fria em um de seus pontos nevrálgicos e também conheceu personalidades importantes do Brasil do século 20, como o jornalista e político Carlos Lacerda e o poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto. Alguns anos antes de falecer, Calábria registrou suas lembranças no livro Memórias: de Corumbá a Berlim.
“Mário Calábria, além de uma trajetória de diplomata, que é sempre algo interessante quando se pensa nos estudos brasileiros, tem no perfil esse aspecto interessante de ter trabalhado com Guimarães Rosa”, comenta a vice-diretora do IEB, professora Flávia Toni.
A maior parte do acervo recebido pelo IEB corresponde a cartas trocadas durante 70 anos entre diplomatas, políticos, historiadores e artistas. São 4.770 documentos, aos quais se reúnem 210 livros com dedicatórias, fotografias, documentos pessoais e documentos selecionados de periódicos. Dentre os destaques do acervo estão algumas cartas que tratam de Grande Sertão: Veredas, a obra magna de Guimarães Rosa. Os documentos recém-chegados farão parte da nova Coleção Mário Calábria do instituto.
“Como documentação, temos um conjunto de cartas importantes dos tradutores de Guimarães Rosa e cartas de trabalho, envolvendo a burocracia de rotina”, adianta Flávia. Um dos tradutores que constam na correspondência é Curt Meyer-Classon, responsável pela versão alemã de Grande Sertão: Veredas e de outros três livros de Guimarães Rosa: Primeiras Estórias, Sagarana e Corpo de Baile.
Antes de chegar ao instituto, o acervo estava sob a guarda da Embaixada do Brasil em Berlim. Durante os trâmites para que a coleção viesse para a USP – que contou também com o apoio do Ministério das Relações Exteriores –, funcionárias do IEB foram enviadas à Alemanha a fim de fazer a acomodação do acervo e a descrição do conteúdo das embalagens.
“Nós não teríamos conseguido trazer esse acervo se não fosse o apoio da Embaixada do Brasil na Alemanha, da família do Mário Calábria e do Ministério das Relações Exteriores”, diz Flávia. A vice-diretora ressalta que a USP não teve nenhum gasto com o processo de doação e que tudo foi feito “com muito profissionalismo, muito cuidado e muita cordialidade”. Ela ainda destaca o trabalho de Elisabete Ribas, funcionária do IEB responsável por ter feito a intermediação entre o instituto e a família de Calábria.
Recém-chegado ao IEB, o acervo permanece fechado, cumprindo procedimento padrão de quarentena, garantindo que brocas ou cupins que eventualmente tenham vindo nos documentos não ataquem outros materiais da instituição. Depois desse período, conforme explica Flávia, o acervo irá para o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), onde passará por um processo com radiação de cobalto. Só aí ele retornará ao IEB para a higienização individual de cada documento. “É nesse momento que começamos a ter uma ideia da constituição real do acervo”, explica a vice-diretora.