“Tagore é o poeta nacional da Índia e uma referência na literatura universal, não somente como escritor que expressa um nacionalismo espiritual e lírico, defendendo o poder plural de sua cultura usando sua língua nativa, o bengali, mas também como humanista.” Essa análise é da professora Laura Izarra, do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, uma das organizadoras do evento internacional Relembrando Tagore, que acontece nesta sexta-feira, dia 7, às 11h30, com transmissão via Youtube.
O evento comemora os 160 anos de nascimento do poeta, romancista, dramaturgo, músico, pintor, filósofo e educador indiano Rabindranath Tagore (1861-1941). “Sua obra estabelece um diálogo multidisciplinar entre o conhecimento oriental e o ocidental, respeitando as diferentes tradições culturais, e foi a voz do povo indiano num período histórico crucial”, acrescenta Laura. Relembrando Tagore é uma realização do Consulado Geral da Índia em São Paulo e do Centro Cultural Swami Vivekananda, em parceria com a USP, através da FFLCH e da Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (Aucani).
O embaixador da Índia no Brasil, Suresh Reddy, abrirá a programação, que conta com palestrantes como os professores Dilip Loundo, coordenador do Núcleo de Estudos em Religiões e Filosofias da Índia (Nerfi) do Departamento de Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e Marcus Wolff, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Uni-Rio). Também estará presente o professor Amrit Sen, do Departamento de Inglês da Universidade de Visva-Bharati, fundada por Tagore. Os convidados vão abordar a obra do poeta indiano, sua importância para a literatura mundial e sua atuação como músico.
Quem foi Rabindranath Tagore
Nascido em 7 de maio de 1861, em Calcutá, na Índia, Tagore foi inovador em todos os campos do conhecimento em que atuou, conforme a professora Laura. O poeta era de uma família brâmane (casta sacerdotal da tradicional estratificação social indiana), ativa no movimento reformista Brahmo Samaj, que buscava uma Índia moderna e secular.
A extensa obra do poeta, escrita em bengali, é influenciada pela literatura ocidental e indiana, segundo Laura. Pinturas, esboços e cerca de 2 mil músicas também integram o conjunto pelo qual Tagore é considerado expoente do “Renascimento” de Bengala – um movimento de reforma social ocorrido no final do século 19 e no início do 20, na região indiana de Bengala, durante o período de domínio britânico. Tagore estudou Direito na Inglaterra e, de volta ao seu país de origem, fundou uma escola experimental na região de Santiniketan, em 1901. Anos mais tarde, em 1921, estabeleceu a Visva-Bharati University.
Incentivado pelo poeta irlândes William Butler Yeats, o poeta indiano publicou a tradução de seus poemas. Em 1913, por Gitanjali (“Oferenda Lírica”, em português), tornou-se o primeiro asiático a receber o Prêmio Nobel de Literatura. Segundo a professora Laura, citando palavras de Yeats, a lírica de Tagore é “cheia de sutileza de ritmo, de delicadezas intraduzíveis de cor, de invenção métrica”.
Os poemas e ensaios de Tagore defendiam a união da Índia e um autogoverno pluricultural, diz a professora. Lembrando que a Índia está cada vez mais presente nos estudos internacionais que analisam as relações econômicas, culturais, históricas e políticas do eixo norte-sul e sul-sul, Laura acredita que grandes pensadores como Tagore seriam fonte de inspiração para um melhor entendimento entre as nações.
“Os temas de sua obra, tecidos na harmonia da linguagem e no ritmo dos versos, revelam o misticismo oriental, o amor pela natureza e pelo espírito, o amor entre os homens”, explica a professora. Como dramaturgo, suas peças de teatro “exploram as paixões humanas: as nuances do amor, a força do desejo, a ansiedade, o autoconhecimento, o ciúme, o perdão, o destino, o medo e a esperança; a união do mundo físico ao mundo espiritual”. Já como ensaísta, seus escritos “versam do visionário ao político, trazendo a voz e o espírito de seu povo na luta contra a opressão do império britânico”, acrescenta Laura.
Na USP, a literatura e a cultura indiana são estudadas em diálogo com a língua inglesa desde 1998, diz a professora. “Várias atividades acadêmicas anuais vêm sendo realizadas por meio de palestras e eventos, como as celebrações dos 150 anos de Tagore, em 2011, os 100 anos do cinema indiano, em 2013, e os 150 anos de Gandhi, em 2019”, entre outros. Há convênios assinados entre USP e universidades indianas. Em novembro de 2020, a Aucani recebeu Amit Mishra, cônsul geral da Índia, e Puja Kaushik, diretora do Centro Cultural Swami Vivekananda, que doaram livros sobre a Índia.
O evento Relembrando Tagore acontece nesta sexta-feira, dia 7, às 11h30, no canal do evento no Youtube. A programação completa e mais informações estão disponíveis neste link.