Músico formado pela USP lança EP inspirado em filmes clássicos

Cinemúsicas, Vol. 1, de Marcelo Segreto, traz cinco canções referentes a cinco obras cinematográficas diferentes

 Publicado: 11/07/2024

Arte: Olívia Rueda**

Capa do EP Cinemúsicas, Vol. 1, de Marcelo Segreto – Foto: Reprodução/Sportify

No dia 19 de junho passado, o cantor e compositor Marcelo Segreto, formado em Música pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, lançou Cinemúsicas, Vol. 1, um EP (extended play) com cinco faixas. O ponto em comum entre elas? Todas as canções fazem referência a clássicos do cinema de diferentes épocas. A ideia é aproximar, por meio de obras autênticas, a música popular e o cinema. Os arranjos foram feitos para quarteto de cordas e violão, e levam o selo Gravadora Experimental (Fatec Tatuí). O EP contou com participação especial da cantora e compositora Tatiana Parra e do cantor e ator Paulo Miklos, com cada um emprestando sua voz para uma canção.

Escolha pelos filmes

Cinemúsicas, Vol. 1 é composto de cinco canções, que homenageiam cinco filmes diferentes. A primeira, Rosebud, fala sobre o amor e a passagem do tempo ao se referir a Cidadão Kane (Orson Welles, 1941) e ao conto Nenhum, Nenhuma, de Guimarães Rosa. Já a segunda, Lost in Translation, que tem a participação de Tatiana Parra, remete ao filme homônimo de Sofia Coppola, de 2003 (em português, Encontros e Desencontros), e aborda o encontro amoroso intenso que deve terminar em um desencontro. A terceira é Me Chame pelo Seu Nome, que se baseia no filme homônimo de Luca Guadagnino, de 2017, ao falar sobre o autodescobrimento no amor. A quarta canção, de temática ambígua e com participação de Paulo Miklos, é Uma Vista da Baía de Guanabara, que se refere ao filme de mesmo nome, gravado em 1898 pelo tio-tataravô de Segreto, Afonso Segreto. Por último está Dançando no Escuro, referente ao longa homônimo de Lars von Trier, de 2000, que aborda os limites entre ficção e realidade.

O cantor e compositor Marcelo Segreto - Foto: Facebook Marcelo Segreto

Abaixo, o clipe de Rosebud (2021), com direção de Marcelo Ricarte

Em conversa com o Jornal da USP, Marcelo Segreto, que também tem formação em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, revela que a escolha pelos filmes não foi aleatória. “Um dos parâmetros era que fossem filmes conhecidos, pela experiência de escutar e fazer a relação. Outra questão era ver quais filmes poderiam dar uma canção interessante dentro da ideia mais lírica, lenta e melancólica que eu adotei”, diz. Apesar disso, ele prezou por uma autonomia da canção em relação à obra original. “Queria que a pessoa não precisasse assistir aos filmes para compreender as canções. Que, se escutasse a canção na rua, pudesse usufruir dela sem precisar dos filmes para adentrá-la. A ideia era que fosse algo sutil”, explica. Produtor musical do EP, Marcus Preto também auxiliou nas escolhas das obras-base.

No caso de Uma Vista da Baía de Guanabara, a ligação familiar foi o fator principal. Segundo o cantor, Afonso Segreto, seu tio-tataravô, tinha ido para fora do Brasil para comprar equipamentos e filmes para a empresa de cinema que tinha com os irmãos e, ao retornar, em 1898, filmou a Baía de Guanabara, no que ficou marcado como o primeiro filme realizado no Brasil. A data da gravação, 19 de junho, é hoje conhecida como o Dia do Cinema Brasileiro, mesma data em que Segreto decidiu lançar seu EP, em 2024. O paradeiro da obra original, porém, é um mistério até hoje. “Não existe uma cópia. Há quem acredite que o filme se perdeu em um incêndio, ou que a coisa era tão precária que meu tio-tataravô o perdeu ao abrir a câmera num ambiente com luz. Não se sabe exatamente o que aconteceu. Fato é que ninguém nunca assistiu”, conta.

Mundos próximos, mas distintos

Independentemente da origem da escolha, o foco do EP está na união entre música popular e cinema. Segreto destaca que esse fator também foi levado em conta na escolha dos participantes especiais. “Tatiana Parra é uma cantora de uma interpretação incrível. E, no caso do Paulo Miklos, além de um cantor incrível, tem a questão de ele também ser ator, de estar ao mesmo tempo na linguagem da música e na linguagem do cinema.” Ele diz que a opção pelo ex-vocalista da banda de rock Titãs também veio por meio de uma sugestão de Marcus Preto.

Tatiana Parra - Foto: Reprodução/Spotify

A intenção de fundir cinema e música vem, para o músico, de uma paixão pelo cinema e de experiências que teve ainda no ambiente universitário. “Eu gosto muito de ler análises, de estudar a linguagem do cinema. Quando eu fazia Música na ECA, frequentei várias disciplinas de Cinema e de Audiovisual no Departamento de Rádio e Televisão. E nessa época eu já tinha vontade de fazer canções inspiradas em filmes.” Em 2022, o cantor já havia lançado um single, Cinecompacto, Vol. 1 (disponível deste link), com homenagens aos filmes Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha, 1964) e Bacurau (Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, 2019).

Segreto se interessa por explorar as formas dos filmes ao realizar as transposições de filmes para canções. “Deus e o Diabo na Terra do Sol, por exemplo, retrata as revoltas populares que ecoaram na época, como em Canudos ou por movimentos como o Cangaço, abafados pelo Estado. Então eu aproveitei um pouco dessa forma. Na canção, as estrofes vão crescendo e abafam”, explica.

Capa do single baseado em Deus e o Diabo na Terra do Sol, 2022 – Foto: Facebook Marcelo Segreto

Projetos em andamento

Segreto revela que a produção de canções baseadas em filmes, com o uso da forma cinematográfica como meio de composição musical, deve continuar — ainda que, inicialmente, por meio de singles. “Agora, em julho, vou lançar uma canção que se chama Qual é o Filme?, inspirada em Os Sonhadores (Bernardo Bertolucci, 2003). No filme, a personagem Isabelle faz encenações e pergunta ‘que filme é esse?’, e o outro personagem tem que responder”. Ele conta que, na canção, também há adivinhações e referências nas diferentes estrofes, que instigam o ouvinte a lembrar de cenas de filmes.

Já em agosto, o compositor deve lançar uma canção em referência a Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (Michel Gondry, 2004), que, segundo ele, também brinca com o fato de que a letra vai “se apagando”, assim como as memórias. “É uma coisa gostosa de pensar: a forma do filme, o que acontece formalmente nele e como transpor isso para a canção.” Quanto a um próximo volume de Cinemúsicas, ele admite que pretende lançar, mas apenas em 2026, pois 2025 deve ser o ano de lançamento de seu primeiro disco solo. Ele explica que o disco não terá relação com os EPs, mas que ainda assim há algumas semelhanças quanto às homenagens. A música De Canção em Canção, por exemplo, que estará no disco, faz referência ao filme Song to Song (Terrence Malick, 2017) e é inspirada nele.

Confira o EP Cinemúsicas, Vol. 1 completo clicando neste link.

*Estagiário supervisionado por Roberto C. G. Castro

**Estagiária supervisionada por Moisés Dorado


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