Entre 6 e 17 de novembro, o Cinema da USP (Cinusp Paulo Emílio) promove a mostra Todo Poder aos Sovietes!, em homenagem aos cem anos da Revolução Russa. São 13 filmes, alguns raros e até inéditos no Brasil, que contextualizam os fatos que levaram ao fim do czarismo e à tomada do poder pelos comunistas e mostram a nova realidade que surgiu a partir de então. Além das sessões de cinema, a mostra terá três debates com historiadores e especialistas no período.
Com o nome Todo Poder aos Sovietes!, os curadores da mostra fazem referência à palavra de ordem dos trabalhadores no momento central da revolução, quando, após a derrubada do czar, os sovietes (conselhos da classe trabalhadora) exigiram o poder frente ao governo oficial, que se formara com a coalizão de partidos socialistas e burgueses, como explica o programador do Cinusp, Rodolfo Ferronatto.
“Fizemos um recorte que aborda filmes produzidos principalmente sobre os acontecimentos entre 1917 até o final dos anos 20. Essa é conhecida como a era de ouro do cinema soviético, um momento de muita inventividade, com diretores como Sergei Eisenstein, Dziga Vertov e Vsevolod Pudovkin. Essa vanguarda acabou sendo interrompida com a ascensão do stalinismo, sendo seus diretores rotulados como formalistas”, afirma Ferronatto.
Desse momento do cinema soviético, a mostra traz, por exemplo, os aclamados Outubro, de Sergei Eisenstein, e O Fim de São Petersburgo, de Vsevolod Pudovkin, que retratam os acontecimentos de outubro de 1917. “São filmes excelentes, que inovaram na montagem e são estudados até hoje. De Eisenstein também foi selecionado o clássico O Encouraçado Potemkin, considerado um dos filmes mais importantes da história do cinema, que se passa em 1905, quando houve uma primeira tentativa fracassada de derrubar o czarismo.
O outro filme da mostra que trata de acontecimentos anteriores a 1917 é o francês A Comuna (Paris, 1871), uma produção de quase seis horas de duração, que mescla documentário e ficção para relatar a experiência da Comuna de Paris. “Esse episódio trouxe lições para o que viria depois, e o próprio Lenin dizia que a Revolução Russa foi o segundo capítulo da revolução proletária mundial, da qual a Comuna de Paris foi o primeiro”, diz o curador.
A Queda da Dinastia Romanov, da diretora Esfir Shub, é o primeiro grande documentário de arquivo da história do cinema, e aborda a primeira fase da Revolução Russa, a chamada Revolução de Fevereiro. Após a exibição do filme, no dia 7, às 19 horas, a professora da USP e especialista em arte e cinema russos Neide Jallageas participa do primeiro debate da mostra. “A professora vai discutir os aspectos estéticos, o que mudou no cinema russo da era czarista para depois da revolução, além de tratar de fatores como o papel da propaganda revolucionária nos filmes”, adianta Ferronatto.
Um dos contrastes ao estilo das vanguardas russas representado na mostra é o filme Reds, do norte-americano Warren Beatty, uma biografia do jornalista John Reed, autor do livro-reportagem Dez Dias que Abalaram o Mundo, sobre a consolidação da revolução. Já As Aventuras de Mr. West no País dos Bolcheviques, de Lev Kuleshov, é uma sátira aos exageros disseminados nos Estados Unidos sobre o que ocorria na Rússia, inspirada nas comédias silenciosas dos norte-americanos.
A mostra traz também fatos ocorridos após a Revolução de Outubro, quando a Rússia entrou em guerra civil, com o Exército Branco da reação czarista, apoiado por tropas estrangeiras, em conflito com o Exército Vermelho dos bolcheviques. O período é retratado em Vermelhos e Brancos, do húngaro Miklós Jancsó, no filme de Dziga Vertov A Sexta Parte do Mundo – que, de acordo com Ferronatto, “mostra as dimensões e a diversidade da União Soviética após a guerra, e é um filme de Vertov talvez menos conhecido do público” – e também no raro A Tragédia Otimista, de Samson Samsonov, traduzido pelo Cinusp.
Também foram traduzidos pelo Cinusp os filmes Documentos de Outubro e Tempos que Sempre Estarão Conosco, ampliando o acervo de obras sobre a revolução disponíveis em português. Documentos de Outubro traz um rico material de arquivo do período entre fevereiro e novembro de 1917 e será tema do segundo debate da mostra, após a exibição das 19 horas, no dia 9, com o historiador Edison Urbano. “Enquanto no primeiro debate vamos falar sobre a estética das vanguardas russas e seu papel na construção da nova sociedade, neste serão abordados os aspectos históricos e políticos da revolução”, explica o curador.
O terceiro debate será voltado ao filme Tempos que Sempre Estarão Conosco, sobre a líder bolchevique Alexandra Kollontai, uma das principais organizadoras do movimento das mulheres trabalhadoras na revolução. A conversa ocorre no dia 16, após a exibição do filme, às 19 horas, com a historiadora Diana Assunção, fundadora do grupo de mulheres Pão e Rosas. Segundo Ferronatto, nesse último debate serão discutidos a participação das mulheres na Revolução Russa, os avanços que ela lhes trouxe e também os retrocessos que vieram com o stalinismo.
Também para discutir aspectos históricos e políticos, a atualidade da revolução, as mudanças trazidas por ela e as causas da degeneração do estado operário, o último filme trazido pelo Cinusp é o documentário argentino Eles se Atreveram.
A mostra Todo Poder aos Sovietes! começa no dia 6 e segue até dia 17 de novembro, com sessões de segunda a sexta-feira, às 16 e às 19 horas, no Cinusp Paulo Emílio. O endereço do cinema é Rua do Anfiteatro, 181, Favo 4 das Colmeias, na Cidade Universitária. A programação completa e outras informações estão no site do Cinusp.