Dramaturgos, Críticos e Ratos – Reflexões sobre o Teatro em Edgar Allan Poe é o título do livro lançado no dia 5 de outubro por Jéssica Cristina Jardim, doutoranda em Literatura Brasileira pela USP e ex-professora assistente de História do Teatro e das Tradições Teatrais da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Publicada pela Editora da Unesp (Edunesp), a obra analisa a influência das artes dramáticas na produção do escritor norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849), conhecido por seus poemas e contos de terror, mortes e detetives. Ela está disponível para download gratuito neste link.
Segundo Jéssica, Poe foi influenciado pelas correntes nacionalistas do século 19 e pretendia produzir um novo modelo teatral, baseado na cultura dos Estados Unidos. Durante os anos em que foi crítico de teatro, o escritor propunha uma ruptura com o romantismo europeu, principalmente com as obras do dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616), visando à criação de peças autênticas. Poe buscava o equilíbrio entre o diálogo com as heranças europeias e a consolidação de uma literatura e de um teatro que expressassem a nacionalidade norte-americana.
Jéssica lembra, porém, que Poe não escreveu obras completas para o teatro. Ele publicou apenas Politician, um drama inacabado, escrito entre 1835 e 1836, no qual não cumpriu suas próprias proposições. “Olhando para essa peça e para as críticas que ele faz, vemos que são quase dois Poe diferentes escrevendo. O que propõe em suas críticas, ele não concretiza em sua peça”, afirma Jéssica.
Mesmo assim – destaca Jéssica -, o teatro desempenhou um papel importante nas obras mais conhecidas do escritor, como no ensaio Filosofia da Composição, onde Poe discorre sobre a metodologia que utilizou para escrever seu poema mais famoso, O Corvo. A doutoranda relaciona o conceito de “unidade de efeito” – explicitado por Poe no ensaio – à ideia de “situação teatral”. De acordo com ela, ambos se referem à ambiência criada pela obra, seja por um um poema, seja por uma peça de teatro, envolvendo o leitor no universo ficcional.
“Mesmo que o drama de Poe não se conecte formalmente com o restante de sua obra, seu mérito ainda é muito grande. Tudo era muito nascente, os Estados Unidos ainda eram uma nação nova, e o teatro nacional ainda estava em formação, dependia muito das vertentes europeias”, diz Jéssica.
A doutoranda conta que lia os contos de terror de Allan Poe quando criança e, durante a graduação, sentiu vontade de voltar-se para a produção do autor novamente, mas sob o olhar de pesquisadora. A ideia de procurar elementos teatrais em Poe surgiu da percepção de Jéssica de que muitos autores românticos foram influenciados pela dramaturgia, pelo espaço de expressão. “Em 2012, quando comecei a me voltar para esse assunto, notei que não havia muitas pesquisas no Brasil sobre isso, mas descobri que ele realmente havia sido crítico teatral e tinha uma proposta importante para os Estados Unidos.”
O livro Dramaturgos, Críticos e Ratos – Reflexões sobre o Teatro em Edgar Allan Poe, de Jéssica Jardim, publicado pela Editora da Unesp (Edunesp), está disponível para download gratuito neste link e também pode ser impresso sob demanda.