No final de dezembro de 2014, estudantes da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP foram até Iporanga, no interior de São Paulo, para fazer um documentário sobre as tradições culturais da cidade. Intitulado Feriado em Iporanga, o filme atraiu a atenção de críticos e foi selecionado para participar do 15º Festival da Academia de Cinema de Pequim, na China, que será realizado entre os dias 16 e 23 de outubro.
Mais antiga instituição ligada ao cinema da China, a Academia de Cinema de Pequim é responsável por formar a maioria dos cineastas chineses que sobressaem atualmente. A academia é ligada à Associação Internacional de Faculdades de Filme e Televisão, da qual a ECA também faz parte.
Feriado em Iporanga documenta o mais tradicional evento de Iporanga, a procissão em homenagem a Nossa Senhora do Livramento, que mobiliza grande parte da população. A procissão acontece há mais de cem anos no dia 31 de dezembro, quando os moradores vão até a mata nos arredores da cidade pegar cipós para amarrar três canoas e construir uma barca, a fim de descer o rio Ribeira com a “Santinha”. Além de abordar os aspectos religiosos do evento, o filme também mostra a rotina dos moradores. “A gente tentou encontrar um pouco da beleza no cotidiano da cidade, como as pessoas tocando música, se divertindo na praça. Uma coisa bem singela”, afirma a diretora do filme, Lorena Duarte, aluna de graduação em Audiovisual da ECA.
No dia 14 de outubro, Lorena vai para a China acompanhar o festival e ver a reação do público chinês. “É o único filme brasileiro que participa do festival e isso me faz pensar que os chineses têm muito interesse pelas nossas tradições culturais e pela nossa origem e miscigenação”, diz Lorena.
A ideia de fazer um filme sobre Iporanga surgiu quando Lorena visitou a cidade com um grupo de amigos, no final de 2013. Nessa ocasião, ela participou da procissão a Nossa Senhora do Livramento e ficou encantada com o que viu.“Foi uma experiência muito forte e emocionante ver como aquela santinha mobiliza tanta gente para trabalhar e fazer aquilo acontecer. É a própria força de vontade das pessoas. Achei aquilo muito mágico, porque não é fácil juntar tanta gente em torno de uma coisa só. Eu falei que queria voltar para Iporanga com uma câmera.”
Durante todo o ano de 2014, a equipe de produção fez os preparativos, visitou a cidade e planejou a filmagem. No réveillon de 2014 para 2015, com um grupo formado por sete pessoas – pouco para o tipo de produção que estava acostumada a fazer -, ela chegou em Iporanga para as filmagens. “Conseguimos fazer algo bem artesanal, porque todo mundo estava envolvido no processo, participava bastante e as funções eram compartilhadas”, lembra Lorena.
“A população da cidade recebeu a produção do filme e isso deu pra gente um senso de responsabilidade, porque as pessoas de lá não estavam querendo se promover ou apenas aparecer em um filme”, acrescenta a diretora. “A gente sempre vai com receio por ser de fora, mas eles levaram aquilo de uma forma natural.”
Segundo Lorena, os moradores de Iporanga já estão acostumados a receber pesquisadores da USP, porque a cidade tem atrativos para cientistas, não só em razão de suas tradições, mas também pela biodiversidade. A cidade tem a maior área de mata atlântica preservada no Brasil. “Por isso tem muitos estudiosos que vão lá para pesquisar plantas da região, por exemplo.”