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Foto: Paula Bassi/EEFE
Em animais, treinamento físico mais intenso estimula formação de vasos sanguíneos e difusão de oxigênio nos músculos
Estudo da Escola de Educação Física e Esporte mostrou que o treinamento mais intenso estimula a atividade da enzima ECA1, produtora de uma pequena proteína que forma os vasos sanguíneos
A maior intensidade de treinamento físico estimula a formação de vasos sanguíneos nos músculos, conhecida como angiogênese, o que favorece a difusão de oxigênio e melhora a performance do exercício. A conclusão, obtida em testes com animais, é de uma pesquisa da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, que investigou os mecanismos moleculares que levam o treinamento a aumentar a angiogênese. Os pesquisadores verificaram que o treinamento físico mais intenso, realizado três vezes por dia, estimula a atividade de uma enzima, a ECA1, que produz angiotensina II, peptídeo (proteína pequena) que forma os vasos sanguíneos. O trabalho é descrito em artigo publicado na revista científica Antioxidants em 28 de março.
“A angiogênese é caracterizada pela formação de novos vasos sanguíneos. Sabe-se que ela melhora a capacidade aeróbica, principalmente por favorecer a perfusão sanguínea periférica, que promove a captação de substratos energéticos e a liberação de oxigênio, melhorando assim a performance física”, afirmam os professores Tiago Fernandes e Edilamar Menezes Oliveira, da EEFE, que coordenaram a pesquisa. “Entretanto, sabemos que a rarefação microvascular, caracterizada pela perda de vasos sanguíneos, tem se mostrado um marcador de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, o que reforça a importância da angiogênese.”
Tiago Fernandes - Foto: Arquivo pessoal
De acordo com os professores, um dos mecanismos moleculares envolvidos na angiogênese é o sistema renina-angiotensina, que promove maior ativação da enzima conversora de angiotensina 1 (ECA1) e aumento da quantidade de angiotensina II (Ang II), peptídeo responsável pela formação de novos vasos. “O efeito desse sistema está ligado a uma classe de pequenos RNAs que regulam a expressão gênica, conhecidos como microRNAs, ou miRNAs”, aponta. “Nosso grupo mostrou nos últimos anos o envolvimento dos miRNAs nas alterações metabólicas, contráteis e angiogênicas induzidas pelo treinamento físico aeróbio no tecido cardíaco, porém, as alterações angiogênicas no músculo esquelético ainda são pouco compreendidas.”
Edilamar Menezes - Foto: Arquivo pessoal
“O objetivo do estudo foi investigar os efeitos do treinamento físico aeróbio em diferentes volumes na angiogênese do músculo esquelético e na expressão de dois miRNAs, -27a e -27b, associados ao sistema renina-angiotensina”, observam Edilamar e Fernandes. “Nossa hipótese foi que o treinamento em volume promove a angiogênese do músculo esquelético e que seria acompanhada por uma redução dos miRNAs -27a e -27b, ao mesmo tempo que há estimulação do eixo ECA1/Ang II sem prejudicar o equilíbrio oxidante-antioxidante.”
Efeitos do treinamento
Para o desenvolvimento da pesquisa, foram usadas ratas da espécie Wistar submetidas ao treinamento de natação. “O treinamento foi dividido em dois protocolos com quantidades diferentes de exercícios, uma parte dos animais treinou uma vez por dia e outra, três vezes por dia”, relatam os professores. “Analisamos marcadores de treinamento físico, como a frequência cardíaca, além da avaliação de pressão arterial e de parâmetros moleculares associados ao crescimento dos vasos e a respostas oxidantes e antioxidantes.”
“Demonstramos que o treinamento físico aeróbio promoveu uma redução na frequência cardíaca de repouso, conhecida como bradicardia, um importante marcador desse tipo de treinamento”, ressaltam. “Também encontramos uma melhora na capacidade física pelo teste de esforço e consumo de oxigênio (VO2 pico) nos dois grupos de animais, porém, com maior ênfase nos que treinaram três vezes por dia.”
A análise dos parâmetros moleculares revelou que o treinamento físico aeróbio, de forma dependente do volume de treinamento, reduziu os níveis nos miRNAs -27a e -27b. “Esta redução provoca um aumento fisiológico da enzima ECA1, que converte angiotensina I em angiotensina II”, descrevem Edilamar e Fernandes. “Por sua vez, o incremento da angiotensina II promove maior angiogênese com maior biodisponibilidade do vasodilatador óxido nítrico e uma melhora na defesa antioxidante.”
Para confirmar a participação do sistema renina-angiotensina na angiogênese do músculo esquelético induzida pelo treinamento em volume, os pesquisadores usaram um fármaco que inibe os receptores de angiotensina II do tipo I, conhecido como Losartana. “O experimento mostrou que o treinamento é essencial para um aumento da angiogênese, pois regula os fatores moleculares envolvidos”, salientam os pesquisadores. “O treinamento em maior quantidade altera os níveis de miRNAs -27a e -27b, além de ativar a enzina ECA1 e a angiotensina II, o que leva à angiogênese e ao equilíbrio redox, melhorando assim o desempenho físico aeróbio.”
O estudo foi realizado no Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular do Exercício da EEFE, coordenado pelos professores Edilamar Menezes de Oliveira e Tiago Fernandes. A pesquisa teve também a participação de Luis Felipe Rodrigues, Bruno Rocha Avila Pelozin, Ursula Paula Renó Soci e Glória de Fátima Alves da Mota, da EEFE, Natan Daniel da Silva Junior, da EEFE e da Universidade Ibirapuera, Everton Crivoi do Carmo, do Centro Universitário Senac, Victoria Cachofeiro e Vicente Lahera, da Universidade Complutense de Madri, na Espanha.
Mais informações: e-mail tifernandes@usp.br, com o professor Tiago Fernandes
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