Professora Alessandra (de camisa listrada) e sua equipe – Foto: Luiz Prado

Criado por cientistas da USP, equipamento extrai óleos vegetais usando solvente verde e seguro para a saúde

Protótipo desenvolvido na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP, em Pirassununga, procura oferecer alternativa ao uso do hexano, solvente tóxico e não renovável à base de petróleo

 29/11/2021 – Publicado há 3 anos     Atualizado: 16/12/2021 às 11:04

Por Luiz Prado

Você sabia que o óleo usado na cozinha, seja ele de soja, milho ou girassol, é obtido a partir de um processo que tem entre seus componentes o hexano, um solvente à base de petróleo, tóxico, não renovável e que pode deixar resíduos?

É para tentar se livrar do hexano que a professora Alessandra Lopes de Oliveira e sua equipe do Laboratório de Tecnologia à Alta Pressão e Produtos Naturais (LTAPPN) da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga, desenvolveram um equipamento que deixa de lado o solvente à base de petróleo e, em seu lugar, usa o etanol como solvente verde e renovável.

O equipamento desenvolvido pela professora Alessandra e sua equipe, nas instalações do Laboratório de Tecnologia à Alta Pressão e Produtos Naturais (LTAPPN) - Foto: Luiz Prado

O hexano comercial, usado tradicionalmente na indústria para extração de óleo de sementes oleaginosas, como a soja e o girassol, é uma mistura de hidrocarbonetos, com 65% de hexano normal e 35% de isômeros de ciclopentano e hexano. Durante o processo, ele dissolve o óleo vegetal, que é transportado pelo solvente por todo o equipamento, um processo que dura de 30 minutos até 2 horas. Óleo e solvente ficam em contato e, em cada estágio, a concentração de óleo na mistura aumenta.

“Chega de produzir óleo de soja com hexano, que é tóxico”, enfatiza Alessandra. “Nosso papel, como engenheiros de Alimentos, é desenvolver tecnologias limpas e eficientes, necessárias à produção de alimentos seguros para a saúde humana.”

O novo equipamento, ainda em fase de testes, opera extraindo o óleo vegetal através da pressurização do solvente e de alta temperatura, diferentemente do processo com o hexano, que acontece na temperatura ambiente. O procedimento, conhecido como processo de Extração com Solvente Acelerado (ASE –Accelerated Solvente Extraction), utiliza uma técnica desenvolvida nos anos 1990 para análise laboratorial de resíduos de pesticidas em solos e casca de vegetais.

A alta pressão mantém o solvente em estado líquido e permite sua melhor difusão pela matriz - Foto: Luiz Prado

“Os resíduos de pesticidas, normalmente, estão em baixas concentrações, por isso que a Dionex [empresa estadunidense] lançou o ASE em escala analítica (ou de laboratório), uma técnica bastante eficiente para extrair o máximo destes compostos”, explica Alessandra. O protótipo desenvolvido pela pesquisadora e sua equipe aproveita essa técnica e avalia sua viabilidade para o uso na indústria.

Conforme explica a pesquisadora, é a pressão elevada utilizada no processo que permite ao solvente se difundir melhor pela matriz e, além disso, o mantém em estado líquido. Sem a alta pressão, nas condições de temperaturas elevadas utilizadas no processo, o etanol se transformaria em vapor e não teria a mesma eficiência de solubilização que o óleo no estado líquido.

Outra vantagem que o equipamento desenvolvido pelo LTAPPN apresenta é seu sistema de operação não contínuo que trabalha em ciclos ou “em batelada”. Esse processo intermitente garante considerável economia de solvente e rapidez. Na extração, o volume de solvente é subdividido pelo número de até cinco ciclos, o que permite extrair todo o composto da matriz com o mínimo de solvente possível em curto período de tempo. Um processo com cinco ciclos de 10 minutos, por exemplo, tem duração da extração de aproximadamente 50 minutos.

Em primeiro plano, equipamento da empresa estadunidense Dionex, usado para análises laboratoriais. Ao fundo, o equipamento desenvolvido pelo LTAPPN - Foto: Luiz Prado

Com o novo equipamento em escala piloto, os pesquisadores pretendem oferecer uma tecnologia economicamente viável para o emprego dessa técnica em escala industrial. Além da obtenção dos óleos usados na cozinha, Alessandra aponta também a possibilidade de seu uso na obtenção mais rápida de extratos de plantas para fins terapêuticos, como as tinturas que, segundo a Farmacopeia Brasileira, são obtidas em períodos superiores a 24 horas.

Até agora os testes já conseguiram extrair óleos de soja, girassol, caroço de pequi e castanha-do-brasil. Os próximos passos do laboratório envolvem a realização da avaliação econômica do equipamento e o estudo contínuo do aumento da escala de produção.

“Chega de produzir óleo de soja com hexano, que é tóxico”, enfatiza Alessandra. “Nosso papel, como engenheiros de Alimentos, é desenvolver tecnologias limpas e eficientes, necessárias à produção de alimentos seguros para a saúde humana.”

A pesquisa desenvolvida pelo LTAPPN tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pelas bolsas dos estudantes de mestrado e doutorado.

Mais informações: e-mail alelopes@usp.br, com a professora Alessandra Lopes de Oliveira