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Pesquisadores da USP isolaram substâncias extraídas de fungos e algas marinhas que poderão ser utilizadas como matéria-prima de novos protetores solares. A pesquisa iniciada em 2014 nos Laboratórios de Tecnologia de Cosméticos Aplicada à Fotoproteção e de Química Orgânica do Ambiente Marinho, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, constatou que as substâncias bioativas, além de potencial fotoprotetor, poderiam também ser aplicadas na indústria farmacêutica para a produção de outros cosméticos e medicamentos.
Pesquisadores envolvidos neste trabalho perceberam que tanto as algas quantos os fungos produziam algumas substâncias (carotenoides, pigmentos e aminoácidos do tipo micosporinas – MAAs) que os protegiam dos efeitos nocivos causados pelo sol. A partir desta constatação, eles isolaram, em laboratórios, extratos desses organismos marinhos que demonstravam ser eficazes contra os raios ultravioleta (UV). Além de compostos ativos já utilizados comercialmente em produtos cosméticos, a farmacêutica e autora da pesquisa Renata Spagolla Napoleão Tavares encontrou outras classes de substâncias que possuíam a capacidade de absorver e de refletir a radiação UV e de agir como antioxidante e neutralizadoras de radicais livres.
O estudo analisou extratos orgânicos de dois fungos endofíticos (microrganismos que vivem no interior das plantas): o Xylaria sp e o Annulohypoxylon stygium, ambos isolados de alga coletada no litoral de Ubatuba, em São Paulo, e outras quatro espécies de algas que habitam as águas da Antártida: a Palmaria decipiens, a Monostroma hariotti, a Desmarestia anceps e a Gigartina skottsberggi.
Um dos principais destaques do trabalho foi o isolamento de duas novas moléculas provenientes do fungo A. stygium. Estas apresentaram absorção de raios ultravioleta tipo B (UVB), e segundo Renata, nunca tinha sido descrita antes como origem natural. Outro composto identificado foi o carotenoide marinho. Extraído da alga D. anceps, demonstrou eficácia contra os raios UVA, que são os principais responsáveis pelo envelhecimento precoce, além de estarem relacionados às alergias e ao câncer de pele. “A maioria dos filtros disponíveis no mercado protege somente contra o UVB”, afirma Renata. Assim, as pesquisas que descobrem propriedades que apresentem proteção UVA são de grande importância.
Como são produtos de origem natural, as novas substâncias estão sendo avaliadas quanto a fotoestabilidade e fototoxicidade para prevenção de reações tóxicas e alérgicas na pele de quem fizer uso dos cremes. Segundo Renata, um dos determinantes da eficácia dos fotoprotetores vendidos no mercado é a instabilidade dos componentes contidos na formulação do produto, que, em contato com a radiação solar, podem sofrer alteração deixando de agir adequadamente sobre a pele.
“As espécies marinhas antárticas também devem ser investigadas para outras atividades biológicas, uma vez que estes organismos pertencem a uma região pouco explorada pelas pesquisas científicas”, explica Renata. A biomassa extraída das algas e dos fungos poderá ter vasta aplicação na indústria farmacêutica, servindo de base para produção de anti-inflamatórios, antifúngicos, antivirais, bactericidas e antioxidantes. Esta pesquisa é fruto de uma parceria do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com a Marinha do Brasil, o Programa Antártico Brasileiro (Proantar), coordenada pelo professor Pio Colepicolo Neto, do Instituto de Química da USP.
A dissertação de mestrado sob o título Potencial fotoprotetor de extratos e substâncias isoladas de fungos endofíticos da alga marinha vermelha Bostrychia radicans e de algas originárias da Antártica teve a orientação de Lorena Rigo Gaspar Cordeiro e colaboração de Hosana Maria Debonsi, ambas da FCFRP. Lorena afirma que pretende avaliar a segurança e a eficácia do carotenoide isolado e de novos compostos em modelo de pele humana tridimensional (pele produzida em laboratório) e o grupo da professora Hosana irá estabelecer parcerias com outros laboratórios para ampliação da investigação do potencial das substâncias produzidas pelas algas da Antártida.
Mais informações: email renatasnt@usp.br, com Renata Spagolla Napoleão Tavares, e lorena@fcfrp.usp.br, com Lorena Gaspar Cordeiro