Uma tese de doutorado defendida no departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) atraiu atenção por seus resultados positivos. O principal objetivo do estudo era testar a eficácia de um sistema de treinamento auditivo temporal em relação a uma possível reabilitação de dificuldades auditivas. Ao longo do trabalho foi desenvolvido um programa de computador específico para esse treinamento. A principal base para a construção do sistema foi a adaptação de atividades do software americano Fast ForWord.
De acordo com Mayra Pires, autora da pesquisa, as principais dificuldades auditivas estudadas foram o processamento de sons apresentados de forma rápida e a troca de letras que resulta em fonemas similares, como nas palavras “faca” e “vaca” ou “zelo” e “selo”. A pesquisa foi feita com crianças sem perdas de audição que apresentavam complicações para compreender corretamente determinados sons. O estudo foi conduzido na Escola de Aplicação da Faculdade de Educação (FE) da USP e revelou um grande potencial deste tipo de treinamento.
Os resultados demonstraram que, com a realização do programa de treinamento auditivo temporal em sessões de 30 minutos, praticada duas vezes por semana, durante oito semanas, foi possível verificar melhora em testes comportamentais auditivos e medidas eletrofisiológicas.
Muitas vezes, a dificuldade de processar fonemas pode refletir em uma escrita equivocada, baseada nos sons errados que são absorvidos pelo jovem. Por isso, os resultados do trabalho podem ser aplicados também em nome de uma aprendizagem mais eficiente da escrita. O que mais chamou a atenção da pesquisadora foi o alto índice de crianças que apresentavam erros ortográficos em séries nas quais essas dificuldades já deveriam ter sido superadas, sobretudo em uma escola considerada modelo de educação e ensino. “Acabamos refletindo sobre métodos de ensino em jovens que apresentam dificuldades de aprendizagem, especialmente nas populações mais carentes, e sobre o quanto essas crianças podem se beneficiar com a estimulação auditiva”, afirmou a fonoaudióloga. Outra importante decorrência da pesquisa foi uma redução da incidência de erros de escrita nos jovens que participaram do estudo.
Um grande obstáculo, segundo a pesquisadora, foi atrair os jovens para se envolver com o trabalho. “As crianças tinham que chegar com 30 minutos de antecedência do início das aulas. Por isso, houve muitas desistências e falta de interesse por parte dos responsáveis dos jovens”, complementou Mayra.
Além disso, um estudo anterior, que usava algumas das atividades que também foram realizadas nesta tese, demonstrou melhora nas habilidades linguísticas de crianças com dislexia. “Acreditamos que jovens com dificuldades de aprendizagem podem se beneficiar das atividades direcionadas para reabilitação auditiva e linguística que foram utilizadas na presente pesquisa”, finalizou a pesquisadora.
Mais informações: may_pires@hotmail.com, com Mayra Pires