Microcefalia já era endêmica antes do vírus zika, revela pesquisa

Com o zika, condição ganhou o status de surto, mas ocorrência já era significativa, mostrou estudo da USP com a UFMA

 26/03/2018 - Publicado há 6 anos
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Pesquisadores da USP e da Universidade Federal do Maranhão avaliaram os fatores de risco e a prevalência da anomalia em 2010Com o vírus zika ela ganhou o status de surto – Foto: Leonardo Rattes / Ascom Sesab via Flickr – CC

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A microcefalia passou a ser destaque nos noticiários brasileiros após epidemia de zika, em 2015, quando foi constatado que o vírus é fator de risco para a anomalia. Entretanto, ao analisar a prevalência da microcefalia em 2010, pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) consideram que a anomalia já era endêmica e passou para o status de surto com o vírus zika. Os resultados foram publicados na revista Pediatrics Official Journal, periódico oficial da Academia Americana de Pediatria.

O estudo avaliou 6.174 crianças nascidas em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, e 4.220 em São Luís, capital do Maranhão, de janeiro a dezembro de 2010. Desses, 3,5% dos recém-nascidos de São Luís e 3,2% de Ribeirão Preto nasceram com microcefalia.

Microcefalia: fatores que envolvem aspectos sociais, reprodutivos, demográficos e de estilo de vida também influenciam na ocorrência da anomalia

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Os pesquisadores lembram que não é apenas a infecção congênita pelo vírus zika que causa a microcefalia. Outros fatores que envolvem aspectos sociais, reprodutivos, demográficos e de estilo de vida também influenciam a anomalia.

Nas duas cidades, por exemplo, os pesquisadores constataram, em 2010, que estão associados à anomalia fatores sociais como baixa escolaridade materna, mãe que vive sem companheiro ou união consensual, tabagismo materno; e fatores reprodutivos, como parto vaginal e restrição do crescimento intrauterino.

Em São Luís, nascer em hospitais públicos e consumo de álcool durante a gravidez também foram associados à anomalia. Ainda de acordo com a pesquisa, tabagismo materno e restrição do crescimento intrauterino também estão relacionados com a microcefalia grave.

Os dois grupos avaliados fazem parte da Coorte Brasileira de Nascimentos de Ribeirão Preto e São Luís (Projeto Brisa), estudo que acompanha o crescimento e o desenvolvimento fetal e infantil nos seus aspectos físicos e psicossociais, avaliando características da saúde geral dessas crianças, as morbidades (ocorrência de doenças) e óbitos infantis associados. 

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Prevalência da microcefalia em Ribeirão Preto e São Luís

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A microcefalia, explica Heloisa Bettiol, uma das autoras do estudo e professora da FMRP, tem como principal característica menor perímetro da cabeça quando comparado a outras crianças na mesma fase de desenvolvimento. Segundo outros estudos, os pesquisadores esperavam 
taxas de 2,3% de microcefalia, e Ribeirão Preto apresentou, em 2010, taxa ligeiramente maior, com 2,5%; contudo, em São Luís, a taxa observada de 3,5% foi uma vez e meia maior do que o esperado.

Pesquisadores da USP que participaram do estudo, entre eles os professores que assinam o artigo: Viviane Cunha Cardoso (segunda da esq. para a dir.), Heloisa Bettiol (ao centro) e o Marco Antonio Barbieri (segundo da dir. para a esq.) – Foto: Gabriel Soares

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“Comparada a Ribeirão Preto, em 2010, São Luís também apresentou mais casos de microcefalia severa grave, com 0,7% de prevalência, enquanto em Ribeirão Preto esse índice foi de 0,5%”, diz o professor Marco Antonio Barbieri, da FMRP, um dos autores do estudo. A taxa esperada dessa anomalia é de 0,14%; portanto, para os pesquisadores, o achado dado foi maior que o esperado para as duas cidades, o que caracteriza que a endemia já ocorria antes da epidemia do vírus zika em 2015.

No Brasil, segundo o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) do Datasus, a prevalência da microcefalia era de 0,57  nascidos vivos em 2010 e passou para 5,5 em 2015. Entretanto, o Estudo Colaborativo Latino-Americano de malformações congênitas (Eclam) estima que 66% dos casos de microcefalia graves não são notificados.

Além de Barbieri e Heloísa, participaram do estudo os professores Viviane C. Cardoso e Ricardo C. Cavalli da FMRP. E pela UFMA, Antônio A. M. Silva, Maria T. Alves, Carolina A. Carvalho, Rosângela F. Batista, Marizélia R. Ribeiro, Fernando Lamy-Filho e Zeni C. Lamy e Vanda M. Simões.

Mais informações: e-mail mabarbieri@fmrp.usp.br, com Marco Antonio Barbieri (USP); e aamouradasilva@gmail.com, com Antônio A. Silva (UFMA).

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