A autora do trabalho, Ana Cristina Aparecida Jorge, é psicóloga de formação e defendeu o mestrado em 2019 na área de Filologia e Língua Portuguesa. Ela explorou a fonologia dentro do estudo da voz em pessoas com transtornos mentais, tema ainda inédito no Brasil.
A coleta de dados foi dividida em quatro etapas: entrevista de anamnese, relato de experiências tristes e felizes, descrição de trabalhos artísticos feitos pelos entrevistados e leitura de um trecho de uma história infantil.
Para tal, a pesquisadora gravou a voz de 16 pacientes com esquizofrenia no Museu de Imagens do Inconsciente, uma das alas do Instituto Nise da Silveira, que fica no bairro Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, e 16 pessoas sem transtorno mental, como um grupo de controle.
Em seguida, foram realizados os mesmos procedimentos no CAPS II Espaço Vivo, um dos serviços do Centro de Atenção Integral à Saúde Prof. Cantídio Moura de Campos, que fica na cidade de Nilópolis (RJ).
Ana Cristina analisou apenas a entonação na fala dos pacientes. “O que estavam falando em si não era o foco do estudo”, explica. Essa análise abordou quatro parâmetros: frequência, intensidade, pausa e duração.
Diferenças na voz
Os resultados mostraram diferenças na entonação de voz entre indivíduos com e sem esquizofrenia. Ana Cristina explica que as pessoas com esquizofrenia apresentaram pouca variação de simetria e dispersão na entonação da fala, ou seja, elas expressavam suas emoções pela voz de forma menos acentuada.
“Os participantes com esquizofrenia se emocionavam mais, choravam mais. Quando contavam algo engraçado davam muita risada, por exemplo, o que nos participantes sem transtorno mental não acontecia”, conta.
Por outro lado, as pessoas sem transtorno mental percebiam o tipo de relação estabelecida na entrevista e usavam mais elementos emocionais e afetivos na fala. Por isso, os gráficos de simetria e dispersão da voz apresentaram mais variações.
Diagnóstico e tratamento
Atualmente a esquizofrenia é diagnosticada a partir de avaliação médica e testes de consciência. Ana explica que os resultados de sua pesquisa podem servir para facilitar o diagnóstico, como um teste a mais entre os já realizados. “Essa fala mais contida, sem tantas modulações, se só existe na esquizofrenia, poderia ajudar no diagnóstico.”
De acordo com a pesquisadora, a pesquisa também pode ter aplicações no tratamento da esquizofrenia, uma vez que pode facilitar a comunicação entre médico e paciente a partir da interpretação de sua entonação de voz.
Paulo Andrade / Assessoria de Comunicação da FFLCH