Sete décadas de pioneirismo da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto

Alinhada com a evolução e os desafios da profissão no Brasil, a Escola é referência para outros países no mundo

 27/11/2023 - Publicado há 5 meses

Texto: Rose Talamone

Arte: Simone Gomes

Da esquerda para a direita – Karina Domingues, representante da Secretaria Municipal da Saúde; Silvia De Bortoli Cassiani, assessora regional de Enfermagem e Técnicos da Saúde da OPAS em Washington; Elucir Gir, vice-diretora da EERP; Marcos Papa, vereador; Pedro Fredemir Palha, diretor da EERP; Carlos Gilberto Carlotti Junior, reitor da USP; e Adriana Ruzzene, diretora do Depto Regional de Saúde DRS XIII – Foto: Willians Braz Romano

“Ao longo dos últimos 70 anos, a Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP se tornou referência e liderança mundial, especialmente na América Latina e África, tanto no ensino como na pesquisa e na extensão, e se destaca na Universidade pela sua inserção internacional, que pode ser comprovada pelo número de alunos estrangeiros nos corredores da Unidade. Uma escola moderna e atuante, com forte presença na atenção à saúde em todos os níveis – primário, secundário e terciário”, foram as palavras do reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, no último dia 17, na sessão especial da Câmara Municipal de Ribeirão Preto que homenageou os 70 anos de criação da EERP.  

O diretor da EERP, Pedro Fredemir Palha, agradeceu a iniciativa do vereador Marcos Papa, autor da resolução, e a todos os membros da casa que aprovaram sua proposta de homenagem e reconhecimento. “Essa homenagem sem dúvida leva-nos a olhar para o caminho percorrido, refletir sobre o passado, encarar os desafios presentes e desenhar o futuro.”

Para o diretor, esta é uma longa história, impossível de ser retratada em alguns poucos minutos, mas digna de ser lembrada e venerada. Uma sólida trajetória na formação de recursos humanos, hoje atuantes nas diferentes regiões do Brasil e das Américas, e, ainda, na formação de muitos daqueles que se tornaram líderes em diferentes instituições e organismos internacionais. “Uma trajetória construída por diversas mãos, com a formação de cerca de 130 profissionais por ano, com programas de pós-graduação de excelência, mas sem deixar em nenhum momento de nossa história uma vertente muito importante na extensão de serviços prestados à comunidade, promovendo o avanço na melhoria das soluções de saúde e qualidade de viver para outras pessoas”. 

A homenagem na Câmara Municipal de Ribeirão Preto marca o encerramento de uma série de eventos comemorativos aos 70 anos da EERP e os 35 anos da Unidade como Centro Colaborador da OMS para a Pesquisa em Enfermagem.

Assim, a EERP da USP celebrou seu passado notável e persiste em projetar uma visão moderna para um futuro que continuará a impactar positivamente a enfermagem, a saúde pública e a comunidade em geral.

Alunos da EERP vestem uniformes dos profissionais da Enfermagem nos últimos 70 anos - Foto: Willians Braz Romano

Na vanguarda desde 1953

A história da Enfermagem no Brasil se entrelaça com a história da EERP. Fundada em 1953, inicialmente funcionava para atender às necessidades dos hospitais da região e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP. Desde então, a instituição se dedicou à formação de profissionais qualificados, investiu em pesquisas, atividades de extensão e na disseminação do conhecimento, incorporando disciplinas de humanidades em seu currículo de graduação desde os seus primeiros anos, um diferencial instituído pela sua fundadora, professora Glete de Alcântara, pioneira na sua visão de futuro da profissão.

Ao longo de sete décadas, a EERP permaneceu na vanguarda em formação profissional, pesquisa e extensão. O diretor atual, Pedro Fredemir Palha, enfatiza o papel proeminente desempenhado por diferentes diretores, funcionários e alunos ao longo dos anos, destacando o entendimento precoce da enfermagem como uma peça fundamental no sistema de saúde e na resolução de problemas de saúde pública.

Além disso, a participação e liderança da EERP em grandes redes de pesquisa, seu papel na formação de profissionais qualificados e a internacionalização foram destacados pelo diretor, assim como a abordagem interdisciplinar e multidisciplinar da EERP, ao proporcionar uma formação abrangente para profissionais de saúde, inclusive por meio de programas de pós-graduação reconhecidos pela excelência.

Centro Colaborador da OPAS/OMS

Também resultado do seu protagonismo, na década de 1980 a EERP se tornou Centro Colaborador da Organização Panamericana de Saúde (OPAS)/Organização Mundial da Saúde (OMS) para o Desenvolvimento de Pesquisa em Enfermagem, um marco que destacou a escola nos níveis nacional e internacional. A partir daí, inúmeros convênios foram firmados, tanto com organismos nacionais, como Ministério da Saúde e secretarias municipais e estaduais de Saúde, como instituições e governos internacionais, como de Angola, Chile, México, Canadá, Portugal, Estados Unidos, Espanha e Inglaterra, entre outros.

Entre os importantes convênios firmados por meio do Centro Colaborador, destaque para o realizado com o Ministério da Saúde da Guiana para preparar enfermeiros para aquele país. A professora Silvia de Bortoli Cassiani, assessora regional de Enfermagem e Técnicos da Saúde da OPAS, em Washington, lembra que a EERP colabora em uma série de iniciativas para fortalecer os profissionais de enfermagem de toda a região das Américas. “Isso corrobora com a iniciativa do Ministério da Saúde da Guiana, que necessita de mais enfermeiros. Aliamos toda a nossa experiência em educação para a formação dos seus professores, para assim dar a oportunidade para que também a Guiana possa crescer nessa área.”

Para Silvia, que é professora titular da EERP, essa iniciativa pode ser um piloto para outras experiências em países do Caribe, sempre com a visão de formar profissionais de Enfermagem de alta qualidade e competência para o serviço de saúde. “Esse curso é parte do processo de reformulação do ensino de graduação para formação de enfermeiros na Guiana. O projeto é resultado de ações da OPAS em Washington, em parceria com o nosso Centro Colaborador e a OPAS da Guiana.”

O diretor explica que cabe à EERP fazer a revisão, reformulação dos programas das disciplinas e de referências bibliográficas, além da orientação e desenvolvimento de material didático, orientação e apoio à implementação das disciplinas revisadas. Em 2023, o primeiro ano do curso reformulado já está em implantação. “É um projeto de grande envergadura, envolvendo diversos docentes da EERP. A coordenação geral está a cargo das professoras Carla Ventura, diretora do Centro Colaborador, e do núcleo executivo com as professoras Lucila Nascimento e Fernanda Gimenes.

O Assessor de Sistemas e Serviços de Saúde da Organização Pan-Americana da Saúde/Guiana, Daniel Albrecht, afirma que quando o governo da Guiana deu início às reformas no sistema de saúde do país, o Ministério da Saúde decidiu expandir os hospitais e estimaram a necessidade de duplicar o número de enfermeiras no país. Para este aumento, era necessária a inovação do ensino em enfermagem e verificaram quais instituições já haviam trabalhado naquele país. Foi assim que chegaram até a Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP, que já era parceira desde 2015 em outro projeto. “A Guiana é um país com características muito particulares, com diferentes regiões que possuem situações desafiadoras e a EERP já conhecia esta realidade, por isso foi a escolha lógica para este novo projeto de revisão do currículo e formação em enfermagem.”

Outros pontos destacados pelo assessor foram a inovação com o oferecimento de ensino on-line e a sólida experiência de uma Escola com 70 anos de criação, seu papel na consolidação da Enfermagem no Brasil e sua colaboração com a OMS. A diretora adjunta de Educação em Ciências da Saúde do Ministério da Saúde da Guiana, Chandroutie Bahadur Persaud, compartilha a opinião do assessor e diz que muita pesquisa foi feita em relação aos docentes e programas da EERP. “Esta não é a primeira parceria com a Escola de Enfermagem. Já tivemos a formação, feita nesta Escola, de enfermeiros da Guiana para os níveis de mestrado e doutorado. Esta é uma das melhores Universidades recomendadas e a qualidade do trabalho da USP é reconhecida no mundo inteiro”.

Alunos da EERP vestem uniformes dos profissionais da Enfermagem nos últimos 70 anos - Foto: Willians Braz Romano

Práticas avançadas em Enfermagem

O Centro Colaborador também participa de um conjunto de ações para facilitar a implementação efetiva das Práticas Avançadas em Enfermagem, já existente no Canadá, Chile, Espanha, Estados Unidos, México e Reino Unido, por exemplo. “Nesse sentido, a EERP tem liderado esse processo no Brasil, discutindo tanto com o Ministério da Saúde quanto com organizações regulamentadoras, como é o caso do convênio com a Associação Brasileira de Enfermagem. Na divulgação das efetivas possibilidades que um profissional de Enfermagem possa promover para a saúde do Brasil e da população, no que chamamos de Práticas Avançadas em Enfermagem”, afirma Silvia de Bortoli Cassiani.

Silvia explica que esse é um termo que vem do inglês para definir o Enfermeiro de Prática Avançada, um profissional com mais habilidades. Como exemplo, cita a possibilidade de o profissional prescrever medicamentos, de fazer diagnósticos e referenciar o paciente a um médico. “Ele tem um papel ampliado, um expert. No Brasil essa formação poderia acontecer com um mestrado profissional, que o diferencie do profissional enfermeiro e que o habilite a trabalhar em uma equipe interprofissional.”

Essa nova perspectiva para as práticas de enfermagem é uma luta recente no Brasil, mas já com avanços importantes que vão definir o futuro da enfermagem e, principalmente, a sua resolubilidade frente às questões no campo da saúde dentro de perspectivas disciplinar e interdisciplinar. “Essa perspectiva, sem sombra de dúvidas, vai trazer uma melhora muito importante para o acesso aos serviços de saúde, para o fortalecimento dos sistemas universais de saúde; a possibilidade e uma potencialidade muito grande para o desenvolvimento de tecnologias inovadoras no campo do cuidado e da educação, tanto do ponto de vista individual quanto do ponto de vista coletivo”, afirma Silvia.

 A enfermagem tem exercido uma liderança muito forte nas equipes de saúde e buscado aprimorar novas formas para desenvolvimento do cuidado em saúde. “Existe um protagonismo muito grande da Escola dentro dessa perspectiva, que é a de contribuir para o desenvolvimento da enfermagem para que ela possa se consolidar definitivamente no seu reconhecimento pela sociedade e também na formação desses profissionais para os sistemas públicos de saúde.”

Segundo a professora, “nessa linha, nós trabalhamos com ampliação dos papéis dos enfermeiros em serviços de atenção primária à saúde. Sabemos que a população brasileira, assim como a de muitos outros países, enfrenta dificuldades para acessar serviços de saúde, seja por barreiras geográficas ou por barreiras econômicas e sociais. Muitas vezes os profissionais, como por exemplo os médicos, não querem ir para regiões muito distantes dos grandes centros, que oferecem maiores facilidades profissionais e pessoais. Assim, nós sabemos que os profissionais de enfermagem, se bem treinados, educados e com motivação, podem trabalhar em áreas remotas com populações vulneráveis e com isso possibilitar acesso a bons serviços de saúde para populações que muitas vezes não estão encontrando alternativas para cuidar de sua saúde.”

Fachada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP - USP), no campus de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Foto: Marcos Santos.
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto em números
Curso oferecidos na graduação 2
Vagas oferecidas no vestibular130
Número de alunos matriculados na graduação554
Número de alunos de graduação titulados4027
Número de programas de pós-graduação4
Número de alunos matriculados na pós-graduação459
Número de titulações pelos programas de pós-graduação3172
Número de convênios com instituições nacionais2
Número de convênios com instituições internacionais 63
Número de docentes 85
Número de funcionários 95

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