Nas últimas semanas vários portais e canais de divulgação científica publicaram reportagens e vídeos a respeito da mais recente notícia sobre supercondutores, o tema deste episódio da Série Energia. O que precisa ficar claro é que esse tipo de material não é novidade, pelo contrário, sua existência e estudos sobre comportamento e aplicações estão registradas desde o início do século 20.
O supercondutor tem como característica apresentar resistência elétrica praticamente nula e, ao longo das últimas décadas, muitas pesquisas e experimentos foram realizados para tentar explicar esse fenômeno, o da supercondutividade. Até hoje, no entanto, os processos físicos envolvidos nessa condição são muito complexos e, na maioria dos casos, as descobertas são alcançadas por experimentos empíricos, ou seja, por tentativa e erro, e depois se cria um modelo que mais ou menos explique o fenômeno da supercondutividade. O fato é que desde Onnes (1911) até julho de 2023, todos os materiais supercondutores alcançados precisavam estar em baixíssimas temperaturas ou altíssimas pressões, o que inviabiliza o uso desses materiais nas funções mais cotidianas ou que tenham maiores impactos para o nosso dia a dia.
Mas o grande alvoroço que gerou as notícias recentes, é que uma equipe de pesquisadores da Coreia do Sul publicou artigo, ainda não revisado, afirmando que conseguiram produzir um material supercondutor em condição de pressão e temperatura ambiente, batizado de LK-99. Tal feito, se confirmado, poderia levar a equipe sul-coreana a ganhar o Prêmio Nobel de Física, tamanho o feito extraordinário de se conseguir um supercondutor nessas condições.
Enquanto outros pesquisadores não publicam suas revisões e tentativas de reproduzir o material LK-99, o que podemos fazer é imaginar e especular quais benefícios e grandes melhorias esse material poderia nos trazer, uma vez que apresenta resistência elétrica praticamente nula em condições de temperatura e pressão ambientes. Poderíamos ver uma evolução enorme em termos de eficiência energética em motores elétricos, aparelhos eletrônicos e equipamentos elétricos em geral. Além disso, esse material teria potencial para aumentar em cerca de 100 mil GWh a disponibilidade de energia elétrica na matriz brasileira, uma vez que essa foi a quantidade aproximada de perdas na distribuição e transmissão de energia elétrica no País, ou seja cerca de 15% de todo o consumo de energia elétrica em 2022.
Outra área que poderia ter grandes avanços e melhorias com esse material é o setor de transportes, uma vez que outra característica importante dos materiais supercondutores é a “levitação”, ou seja, esses materiais repelem todos os campos magnéticos quando há passagem de corrente elétrica. Esse comportamento dos supercondutores poderia fazer do LK-99 um material extremamente útil na construção de trens de levitação magnética, os chamados “maglevs”, o que tornaria os custos de operação destes trens, que hoje precisam de muita energia elétrica para levitar, extremamente baixos, tornando-os muito acessíveis e uma solução viável nos mais diversos países.
Enfim, muita coisa boa poderia surgir a partir do momento que se tenha um material supercondutor em pressão e temperatura ambientes, resta saber se o LK-99 é mesmo esse fenômeno ou se essa história não passa apenas de um grande clickbait científico.
A Série Energia tem apresentação do professor Fernando de Lima Caneppele (FZEA), que produziu este episódio com Danilo Pazian Paulo, professor do IFSP e doutorando. A coprodução é de Ferraz Junior e edição da Rádio USP Ribeirão. Você pode sintonizar a Rádio USP Ribeirão Preto em FM 107,9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular para Android e iOS.
*Atualizado por Ferraz Junior às 10h41 de 05/12/2023