O Brasil precisa criar um serviço capaz de oferecer aconselhamento para pessoas com suspeita de covid-19, sem que elas tenham que ir até o serviço de saúde. Precisa também orientar público e empresas a se organizarem numa situação de restrições pela covid-19. É o que diz o professor João Paulo Dias de Souza, da área de promoção da saúde e prevenção de agravos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e membro do Comitê da OMS para formular diretrizes globais de resposta à covid-19.
A expectativa, segundo o professor, é de um grande aumento do número de casos nas próximas semanas, coincidindo com o início da chamada estação da gripe, ou das viroses respiratórias, o inverno. Este é o período em que as pessoas tendem a ficar em ambientes mais fechados, o que “favorece a transmissão de doenças respiratórias”, adianta.
Para o professor é essencial que a pessoa pratique o auto-isolamento e para isso existem possibilidades de aconselhamento pelo serviço médico por via remota. “Muitas vezes a pessoa com resfriado comum, associado ou não à covid-19, com medo, vai ao serviço de saúde. Isso causa uma sobrecarga a esses serviços e uma concentração de pessoas que favorece a disseminação da doença. Precisamos evitar aglomeração e a contaminação maior de pessoas e, claro, ser capaz de dar suporte para os casos mais graves. A pessoa precisa ser esclarecida e ter a tranquilidade de saber que no serviço e na escola será compreendida a ausência dela”. alerta o professor.
Pandemia
A Organização Mundial de Saúde, OMS, classificou a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, como pandemia. Segundo a OMS, nas últimas duas semanas o número de casos fora da China aumentou 13 vezes e o número de países afetados triplicou.
Dias de Souza explica que a mensagem da OMS, ao mudar a qualificação da covid-19 de epidemia para pandemia, foi a de que aumentou o risco da doença atingir todos os países, sem mudança alguma nos protocolos de atendimento.
Ao se deparar com uma emergência de saúde pública internacional ou outras condições relevantes, a OMS estabelece comitês para desenvolver recomendações. No caso da covid-19, foram estabelecidos vários comitês para abordar e desenvolver orientações sobre diversos aspectos para o enfrentamento dessa, agora, pandemia.
Essas recomendações incluem, por exemplo, desde como organizar e reorganizar os sistemas de saúde, como identificar os casos e como fazer o manejo desses casos, até como fazer o fluxo de informações e como atender as pessoas nos diferentes níveis do sistema.
Os comitês trabalham de forma contínua e o professor Dias de Souza participa do comitê de manejo dos casos mais graves, os hospitalizados. “Nesse comitê, estamos na segunda versão das recomendações que focam no cuidado que deve ser oferecido”.
Maioria no Brasil também será de casos leves
Para o professor, a expectativa da OMS é de que a covid-19 se espalhe ainda mais pelo mundo e deve afetar países que não estão tão preparados como a China para enfrentar essa situação.
Em relação ao enfrentamento da covid-19 no Brasil, o professor reafirma o que as autoridades de saúde já anunciaram. “A absoluta maioria dos casos vão apresentar sintomas leves, a maior parte das pessoas não vai conseguir distinguir uma infecção pela covid-19 de um resfriado comum. Em alguns casos existe uma piora principalmente respiratória; algumas pessoas vão desenvolver pneumonia, outras vão desenvolver dificuldades respiratórias”.
Para o professor, do ponto de vista do enfrentamento desta condição, é importante que governos e sociedade civil esclareçam a população quanto aos sinais e sintomas associados a uma infecção da covid-19. E mais, que auxilie a população a distinguir quando se trata apenas de uma infecção leve daqueles casos de maior gravidade que traz febre muito alta persistente, dificuldade respiratória, cansaço muito exacerbado. “Os desafios são grandes, mas se os diferentes níveis de governos não perderem tempo, nessa fase pré-epidemia, o País será capaz de conseguir se organizar.”
Ouça no player acima a entrevista completa.
Por: Rosemeire Talamone e Ferraz Junior