O número de pedidos de demissão voluntária entre os trabalhadores com carteira assinada no Brasil tem aumentado. Dados de janeiro a maio deste ano apontam um crescimento de 14,4% em relação ao mesmo período do ano passado e 22,8% se comparado a igual período de 2022. Já o acumulado dos últimos 12 meses bateu recorde ao atingir 7.851.414 trabalhadores que pediram demissão. Os números são do Instituto Brasileiro de Economia, uma unidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBRE), com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Outro estudo da FGV/IBRE aponta que 75% das novas empresas no Brasil são de microempreendedores individuais, os chamados MEIs. Em muitos casos, segundo esse estudo, a migração de um trabalhador para esse regime ocorre porque a empresa ou o empregado, ou ambos em comum acordo, querem pagar menos impostos ou contribuição previdenciária. Essa é uma das causas que têm levado os trabalhadores a se demitirem.
É o que acredita o professor Edgard Monforte Merlo, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da FEA-RP. “Existe uma mudança de postura dos jovens que estão se formando e que preferem, muitas vezes, serem empreendedores, tocar seus negócios.” Para o professor, muita coisa mudou no mercado de trabalho. “Existe o fenômeno social dos jovens que querem abrir seus negócios e existem os fenômenos globais de aumento da competitividade, que gera a necessidade das empresas reduzirem custos.”
Por outro lado, a parcela dos trabalhadores que se demitem voluntariamente e que preferem se manter no mercado de trabalho gera uma pressão sobre esse mercado, segundo a economista Janaina Feijó, uma das pesquisadoras dos estudos. “O ano de 2022 foi marcado pela recuperação econômica e a gente observou que o mercado de trabalho estava vindo muito forte, com o mercado formal abrindo novos postos de trabalho. Essa boa dinâmica dos últimos dois anos gera uma pressão sobre o mercado de trabalho.”
A economista diz que as pessoas estão migrando de postos de trabalho atraídas por uma oportunidade melhor em termos salariais. “Isso gera uma pressão nas empresas, porque elas precisam contratar novos profissionais e estão tendo que apresentar uma média salarial maior. Então a gente observa um aumento nos postos de trabalho, aumento nas demissões voluntárias e aumento da média salarial.”
O professor Luciano Nakabashi, também da FEA-RP, reforça esse ponto de vista. “O mercado de trabalho formal tem estado mais aquecido e apresentado uma performance melhor que o mercado informal. Isso é importante, porque o emprego formal tem uma qualidade melhor e dá mais segurança para o trabalhador.” Esse aquecimento, segundo o professor, se deve a uma mão-de-obra que estava ociosa desde 2015, quando o Brasil enfrentou uma crise econômica.
Nakabashi, entretanto, alerta que o mercado de trabalho aquecido, com geração de emprego em alta e baixa taxa de desemprego, é bom para o trabalhador, mas pode trazer consequências. Segundo o professor, nesse cenário, o crescimento econômico acaba tendo impacto sobre a inflação, porque as empresas precisam aumentar salários para manter ou atrair trabalhadores, o que aumenta seus custos, que terminam sendo repassados para os preços.