A covid-19 é uma doença nova sobre a qual existem poucos estudos científicos que relacionem alimentação e resistência imunológica para enfrentá-la. Mas inúmeras pesquisas, feitas em laboratórios ou estudos clínicos, que avaliaram o efeito de nutrientes em outras infecções causadas por vírus, semelhantes ao novo coronavírus, podem ajudar a entender essa relação.
A professora Selma Freire de Carvalho da Cunha, da área de Nutrologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, explica que a defesa do nosso organismo contra infecções depende do bom funcionamento do sistema imune. “Como os nutrientes presentes nos alimentos influenciam no sistema imune, podemos dizer que sim, que a alimentação tem um papel tanto na predisposição, ou seja, na tendência a desenvolver doenças, como na proteção contra as doenças infecciosas, até mesmo as causadas por vírus.”
Baseada nesses conhecimentos, a professora afirma que manter uma alimentação equilibrada favorece um sistema imune adequado. “É importante o consumo de alimentos vegetais ricos em fibras que favorecem o crescimento de bactérias consideradas benéficas em nosso intestino. O resultado é a melhora nos mecanismos de defesa imune frente às infecções.”
Sobre a vitamina D, a professora explica que os alimentos ricos nessa vitamina, como arenque, ostras e salmão, não são de consumo habitual em nossa região, mas leites fortificados, carnes e ovos cozidos contêm quantidades satisfatórias. E lembra, “nosso corpo consegue formar a vitamina D a partir da exposição solar, isso significa que é possível manter os níveis normais dela no sangue se expondo ao sol num período de 15 a 30 minutos por dia; claro, nos horários indicados pelos dermatologistas”.
Em meio a tanta informação, Selma alerta que não existe um alimento milagroso, mas ações para uma vida saudável que incluem consumo de alimentos variados, principalmente, frutas cítricas, castanhas, amendoins, legumes e leguminosas, como feijão, vagem, grão de bico e ervilhas e lentilhas. A alimentação diária deve respeitar os hábitos alimentares de cada um, mas, segundo a professora, o café da manhã deve conter sempre um produto lácteo, como leite, queijo ou iogurte. No almoço e no jantar, alguns alimentos devem se destacar como vegetais, legumes e feijões. “Devemos ter porções pequenas de carne em pelo menos uma das refeições, para aquelas pessoas que não são vegetarianas”, diz.
Para aqueles que têm necessidade de comer entre as refeições, a professora orienta que a preferência deve ser pela fruta, que pode ser substituída por um pedaço de queijo ou duas castanhas do Pará ou, ainda, quatro castanhas de caju. Os temperos, diz Selma, “também podem fornecer alguns fitoquímicos que colaboram com a saúde como um todo”.
Ao longo do dia, a alimentação adequada deve conter três porções de frutas e três de legumes ou verduras distribuídas entre almoço e jantar e, também, pelo menos uma porção de feijão, uma porção de carne ou ovo e três porções de produtos lácteos.
Selma alerta para os riscos, neste momento de isolamento, do investimento em hábitos alimentares não saudáveis e de má qualidade. “É fundamental evitar doces, alimentos ultraprocessados, como biscoitos recheados, salgadinhos, macarrão instantâneo e refrigerantes.” E conclui: “A deficiência de alguns nutrientes prejudica o funcionamento dos mecanismos de defesa frente às infecções. Mas isso não significa também que uma oferta excessiva seja vantajosa, em alguns casos pode ser prejudicial. O ideal é a normalidade e o equilíbrio”.
Ouça na íntegra, no player acima, a entrevista da professora Selma Freire de Carvalho da Cunha ao Jornal da USP no Ar, Edição Interior.