Prometida pelo governo de São Paulo para estar pronta em 2017, a vacina contra dengue, desenvolvida pelo Instituto Butantã, foi adiada. Atualmente, ela se encontra na fase 3 de testes, a última antes de ser submetida à avaliação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A partir da conclusão dessa fase, o órgão terá um prazo para decidir se aceita ou não a vacina, como explica o professor Expedito José de Albuquerque Luna, do Instituto de Medicina Tropical da USP.
“Supondo que parte dos vacinados já esteja sendo acompanhada, nessa estação que está acabando agora eles já poderiam ter algum resultado”, diz ele. No entanto, como a ocorrência da doença foi muito baixa no Brasil nos últimos dois anos, é pouco provável que se tenha um resultado satisfatório. “Talvez seja necessário estender o acompanhamento dos vacinados por mais um ano”, afirma. Com isso, os resultados só se tornariam disponíveis após o final da próxima estação de dengue, ou seja, entre maio e junho do ano que vem.
Expedito Luna explica que precisa haver ocorrência da doença para se poder demonstrar que a vacina funcionou no ensaio clínico. Se há baixa ocorrência da moléstia, a probabilidade daqueles que participaram dos testes, mas tomaram somente placebo, contraírem a dengue também torna-se pequena. Além do mais, a vacina tem de se mostrar eficaz para os quatro subtipos existentes da doença. De todo modo, mesmo aprovado, o medicamento não se torna disponível da noite para o dia, uma vez que existem etapas a serem preenchidas – será preciso, por exemplo, que o produtor tenha capacidade comprovada de produção e que o governo, por sua vez, tenha recursos suficientes para adquirir o produto.
De resto, Expedito Luna observa que o Brasil viveu uma situação atípica em 2016 e 2017, anos em que foi registrada uma queda muito grande na ocorrência da dengue, como há muito não se via. Não há uma explicação plausível para isso – como não houve uma melhora do controle de vetores, a expectativa é de que a dengue volte a incidir de forma maciça num futuro próximo.