A piora das condições socioeconômicas e o aumento da pobreza no mundo preocupam as autoridades de saúde com relação à desnutrição infantil severa e o mesmo deve acontecer no Brasil. Segundo o professor Raphael Del Roio Liberatore Júnior, especialista em Nutrição Pediátrica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, a desnutrição não é prioridade em saúde pública no Brasil. Quando o assunto é nutrição, o maior problema é a obesidade, tanto de crianças quanto de adolescentes. Mas, se essa realidade social, de aumento da pobreza, persistir no País, “com certeza, nós vamos ter um aumento da desnutrição infantil”, avalia.
Liberatore Júnior analisa documento recente do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que alerta para o aumento de casos de desnutrição infantil severa e sem tratamento no mundo. São cerca de 10 milhões de crianças, destas, duas entre três não têm acesso a alimentos adequados para tratamento. O professor relaciona esses dados com os números brasileiros de que, segundo o Ministério da Saúde, 13,78% das crianças de até 5 anos, atendidas pelo SUS de janeiro a setembro do ano passado, apresentaram peso inadequado. E a preocupação, diz o especialista, é que os números no Brasil reflitam os dados mundiais.
Liberatore Júnior explica que existem dois tipos de desnutrição: a desnutrição crônica, que está relacionada ao tempo, e a desnutrição severa, que está relacionada à intensidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a gravidade da desnutrição é medida pelo que se chama “desvio padrão”, número encontrado na comparação entre o peso e a altura por idade da pessoa. Se o resultado for um valor menor ou igual a menos três, o caso é considerado grave ou severo.
Para o desenvolvimento infantil adequado são necessários nutrientes e, naturalmente, um déficit na alimentação pode causar problemas no sistema nervoso e no sistema nervoso central. “Então são os nutrientes, ou o adequado aporte de nutrientes, os responsáveis para que o sistema nervoso se desenvolva e portanto a criança ganhe em desenvolvimento neurológico e desenvolvimento cognitivo”, ensina o professor.
Evitar a desnutrição é mais barato que tratá-la
Quanto ao tratamento da desnutrição, Liberatore Júnior adianta que é preciso fazer a renutrição, que deve ser bem esquematizada e lenta. “Não basta dar comida, porque indivíduos muito desnutridos por um longo período não têm capacidade de absorção dos alimentos”, afirma, lembrando que a renutrição de uma criança envolve “toda uma metodologia de abordagem que, entre outras coisas, é muito cara. É muito mais barato para uma sociedade evitar que uma criança desnutra do que tratar desnutrição”.
Ao avaliar o número de mortes infantis no mundo por desnutrição severa – uma a cada cinco crianças menores de 5 anos, segundo o Unicef – , o professor chama a atenção para a divisão de renda “muito inadequada” e a grande quantidade de miseráveis dos países em que mais morrem crianças desnutridas. Liberatore Júnior afirma que são locais onde o acesso à comida é eventualmente dificultado, seja a alimentos comuns ou aos terapêuticos, como tablets, para reposição de componentes específicos da dieta – necessários para a renutrição.
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