São Paulo não tem política que una mobilidade e impacto na saúde

Especialista diz que na cidade, ao contrário do que acontece em muitos países, ocorre um relaxamento nas leis

 07/05/2018 - Publicado há 7 anos

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A redução do tráfego a diesel nas vias de São Paulo melhorou a qualidade do ar e a saúde pública. Um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina (FM) da USP e instituições de Singapura e Estados Unidos sobre experiência recente na capital aponta impactos importantes sobre a poluição do ar e a saúde da população. A inauguração do trecho sul do Rodoanel possibilitou a remoção de 20 mil caminhões a diesel das ruas desde 2010, o que reduziu significativamente a lentidão do trânsito, a poluição do ar, as hospitalizações e o número de mortes cardiorrespiratórias. O doutor Nelson Gouveia, médico epidemiologista ambiental e professor do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP, falou sobre a pesquisa.

O trecho sul do Rodoanel permitiu que os veículos pesados que atravessavam a cidade, principalmente através das marginais e da Avenida Bandeirantes, fizessem esse caminho por fora da cidade, indo direto para o porto. Em números, o médico explica, a cada 10 a 20 caminhões que deixaram de circular, estima-se uma internação a menos e no intervalo de 100 a 200 caminhões que deixaram de circular, estima-se uma morte a menos por problemas cardiorrespiratórios. Ele ressalta que quem se mais beneficia são os mais vulneráveis, como crianças, idosos e quem já tem algum problema cardiovascular e sofre mais as consequências do ar poluído.

Mobilidade urbana na cidade de São Paulo. Foto: Fabio Arantes / Secom via Fotos Públicas

A iniciativa do Rodoanel não foi pensada com o objetivo de melhorar a qualidade do ar, mas em melhorar o trânsito. O estudo, que também acompanhou esse viés da medida, constatou que houve uma melhora nos congestionamentos, mas, cerca de dois anos após a abertura do trecho sul, o trânsito voltou ao estágio anterior. O espaço que os caminhões deixaram foi sendo ocupado, só que por veículos mais limpos, que não rodam a diesel. Entretanto, os efeitos na poluição e na saúde se mantiveram.

Segundo Nelson Gouveia, qualquer medida na vida urbana pode ter consequência na saúde da população e quase nunca isso é levado em conta. Porém, em São Paulo, ao contrário do que acontece em muitos países, está ocorrendo até um certo relaxamento nas leis e é a saúde da população que é lesada com isso. Vidas seriam poupadas se existisse uma política que relacionasse mobilidade, poluição e impacto direto na saúde. “Você não consegue fugir da poluição. É necessário agir coletivamente para melhorar a qualidade do ar e proteger nossa saúde”, conclui o professor.

Jornal da USP no Ar, uma parceria do Instituto de Estudos Avançados, Faculdade de Medicina e Rádio USP, busca aprofundar temas nacionais e internacionais de maior repercussão e é veiculado de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 9h30, com apresentação de Roxane Ré.
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