A nona nota técnica do Centro de Estudos da Metrópoles (CEM) aponta para a questão das calçadas nas periferias. De acordo com o estudo, as Subprefeituras das periferias são as que têm as piores calçadas em São Paulo; alguns exemplos são: Brasilândia, Guaianases, Cidade Tiradentes e Sapopemba. O estudo revela que essas cidades apresentam maior porcentagem de calçadas com largura abaixo de dois metros em relação à média da capital. A professora do Departamento de Engenharia de Transporte da Escola Politécnica (Poli) da USP e pesquisadora do CEM, Mariana Giannotti, e a doutoranda da Poli e também pesquisadora do CEM, Bruna Pizzol, comentam sobre o estudo e os impactos na mobilidade urbana ao Jornal da USP no Ar 1° Edição.
O estudo se baseou em dados espaciais presentes no GeoSampa para promover a análise e discussão sobre as desigualdades socioespaciais na cidade de São Paulo. “A gente utilizou os mapas que estavam disponíveis, tanto aquele utilizado para as larguras como também o de áreas presentes inclusas na PEC (Plano Emergencial de Calçadas). Então, analisamos as diferentes divisões do território e constatamos a desigualdade socioespacial nas várias dimensões de transporte com mais impacto nas periferias”, destaca Mariana.
Entre as Subprefeituras das periferias citadas anteriormente, especialmente da zona leste, Bruna revela que a mediana das calçadas fica entre 0 e 2 metros, ou seja, abaixo do mínimo estabelecido. Já em bairros mais nobres, as calçadas chegam a ser até 50% maiores ou ter até mesmo o dobro do mínimo. Mariana destaca as porcentagens em relação ao Plano Emergencial de Calçadas. “Tanto na zona oeste como no centro, em que as calçadas estão acima do mínimo de dois metros, nós temos, respectivamente, 30% e 40%. Enquanto nas zonas leste e norte é, respectivamente, menos de 20% e 10%”, complementa.
O objetivo da pesquisa, de acordo com Bruna, era analisar a variação das larguras das calçadas na cidade. De acordo com a lei municipal, a largura de 2 metros é recomendada para um caminhar confortável do pedestre. “Além da largura, também há outros fatores que impactam no caminhar, como os desníveis da cidade e barreiras físicas que obstruem a passagem. Mas também têm outras questões que ajudam o pedestre, como os postes de iluminação e as rampas de acesso para cadeirantes e mães com carrinhos de bebê”, explica a autora.
De acordo com as especialistas, a principal constatação do estudo aponta para a discrepância das larguras das calçadas e a porcentagem de deslocamentos a pé nesses territórios. “Nas regiões onde as pessoas mais caminham, a largura das calçadas é menor. Em contrapartida, nos locais onde as pessoas menos caminham, a largura das calçadas é maior. Isso se dá pela concentração da qualificação do espaço público, que é feita no centro expandido, porém, na periferia, as pessoas usam muito o caminhar por conta da acessibilidade. Então, nossa constatação também vai nesse sentido de que é preciso melhorar a qualificação das calçadas também onde as pessoas mais andam”, enfatiza Bruna.
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