As Agências Pública e Repórter Brasil fizeram levantamento de dados, em conjunto com a ONG suíça Public Eyes, no qual usaram informações do Ministério da Saúde, a fim de apurar a presença de agrotóxicos na água. O estudo constatou um coquetel de 27 pesticidas no abastecimento de um em cada quatro municípios brasileiros e 92% dos testes apontaram contaminação por esses compostos. A Rádio USP conversou com a pesquisadora Denise Piccirillo Barbosa da Veiga, doutoranda na Faculdade de Saúde Pública da USP e parte do Núcleo de Avaliação de Riscos Ambientais, para entender se há gravidade no que foi relatado.
Trata-se de uma pesquisa difícil e ostensiva, os números são alarmantes e há necessidade de adaptações, como diz a especialista, mas devemos entender que a lógica de regulamentação europeia é outra. Substâncias que apresentam qualquer chance de risco ficam sob restrições. No Brasil, as medidas baseiam-se em testes laboratoriais de risco efetivo, ainda que existam reclamações acerca do efeito combinatório de alguns agrotóxicos. Existe também outra variável: a maior restrição lá tem consequências sobre a agricultura mundial, deslocando o consumo de pesticidas, o que é verificável quando se cruzam dados históricos da União Europeia com os do Ibama, aponta Denise.
O mestrado de Denise, concluído em 2017, tratava justamente do assunto: O impacto do uso do solo na contaminação por agrotóxicos das águas superficiais de abastecimento público. Ela, então, traça um panorama qualificado das condições atuais do Brasil, sobretudo de São Paulo, em relação aos meios de contaminação. Vale lembrar que os senadores Flávio Bolsonaro e Márcio Bittar apresentaram um projeto que desprotege as matas ciliares.
O debate sobre a desregulamentação dos agrotóxicos é pauta governamental desde 2017. Fica, em vista disso, a necessidade de uma discussão qualificada e transparente sobre o tema, reforça Denise. Acompanhe a matéria na íntegra pelo link acima.