Incontinências urinária e anal são tratadas com fisioterapia

Muitas mulheres com mais de 40 anos sofrem de incontinência urinária, indicativo de distúrbio no assoalho pélvico

 28/08/2019 - Publicado há 5 anos
Por
Logo da Rádio USP

Queda da bexiga, uretra, intestino delgado, reto, útero ou vagina, causada por fraqueza ou lesão nos ligamentos, tecido conjuntivo e músculos da pelve. Todos esses são distúrbios do assoalho pélvico. Ocorrem somente em mulheres e tornam-se mais comuns à medida que envelhecem, e resultam de uma combinação de fatores.

Cerca de 35% das mulheres com mais de 40 anos e após a menopausa sofrem de incontinência urinária, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia. “Esses números tendem a ser subestimados, já que é uma situação de constrangimento. Então, muitas vezes, a paciente não fala desse problema com seu médico”, relata ao Jornal da USP no Ar a professora Cristine Homsi Jorge, do Departamento de Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP).

Ela é responsável pela área de Fisioterapia na Saúde da Mulher e coordenadora do Laboratório de Avaliação Funcional do Assoalho Pélvico e aponta que a fisioterapia é o tratamento de primeira linha para os problemas de incontinência. “É a intervenção com maior nível de eficiência científica. Em relação à incontinência anal (dificuldade de controlar a eliminação de fezes), os resultados são bons também”, afirma.

Cristine também fala dos deslocamentos dos órgãos chamados de prolapsos. “Existe uma teoria que chamamos de barcos em docas secas, do uroginecologista John de Lancey. A posição certa de cada víscera exige o funcionamento sincrônico de uma série de estruturas anatômicas. Porém, isso demanda o equilíbrio de uma série fatores para acontecer”, expõe.

Desequilíbrios podem ocorrer por questões hormonais, uma gravidez, um parto, ou pós-parto, a pós-menopausa, que acarreta em baixa produção de estrogênio (hipoestrogenismo), o principal hormônio feminino. Até mesmo o peso da mulher e a pressão abdominal podem ser relevantes. Os principais indicativos dos prolapsos são os sintomas. “Muitas relatam sentir uma espécie de bola pressionando a vagina”, aponta a especialista. Em casos leves e moderados, a fisioterapia também apresenta benefícios.

A fisioterapeuta aponta que a falta de informação é cara à população. “Problemas como incontinência urinária e anal são postos de lado, seja porque não apresentam riscos imediatos à vida, ou são constrangedores de se apontar. Porém, muitas mulheres deixam de praticar exercício físico em razão da condição. Isso pode acarretar problemas cardiovasculares, que têm taxas altíssimas de morbimortalidade”, indica.

Sentindo qualquer sintoma, a mulher deve relatar ao seu ginecologista. “Assim, receberá um tratamento adequado de um uroginecologista ou de um fisioterapeuta especialista em saúde da mulher”, recomenda a professora. Além dos tratamentos fisioterapêuticos, há possibilidade de cirurgia, tratamento medicamentoso e aplicação de toxina botulínica em casos mais urgentes.

O Laboratório de Avaliação do Assoalho Pélvico presta um serviço de extensão junto à comunidade. Cristine conta que realizaram um estudo, no qual perceberam que em quatro encontros é possível transmitir um conhecimento satisfatório a respeito do assunto. “Isso foi publicado no Journal of Physiotherapy, um periódico australiano”, salienta.

Mas não só o conhecimento basta. Cristine ressalta que cerca de 30% das mulheres não conseguem contrair a musculatura do assoalho pélvico, primeiro passo da fisioterapia. A fisioterapeuta contratada do Centro de Saúde Escola de Ribeirão Preto, Elaine Lemes, orientada em sua pesquisa de doutorado pela professora, buscou uma solução. “Ela analisou três formas de auxílio a essas mulheres. Terapia manual, eletroestimulação e apalpação vaginal”, lembra.

Os sintomas de distúrbios do assoalho pélvico podem ser bastante incômodos. “A retocele, uma projeção da parede do reto em relação à vagina, pode causar uma dificuldade para esvaziar a parte final do tubo digestivo. A mulher às vezes tem que fazer manobras manuais para facilitar o processo”, expõe Cristine. Ela enfatiza que a fisioterapia, além de muito eficiente, apresenta baixos riscos. E diz a todas as mulheres que procurem um especialista ao perceberem sintomas.


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP com a Escola Politécnica e o Instituto de Estudos Avançados. No ar, pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h e às 16h45. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.