Mais de 50 mil bares e restaurantes do Estado de São Paulo declararam falência durante os seis primeiros meses de 2020 devido ao isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus. A pesquisa, da Associação Nacional de Bares e Restaurantes (Abrasel), ainda aponta que, em Ribeirão Preto, no interior do Estado, cerca de 10 mil pessoas que trabalhavam no setor perderam seus empregos até maio. O estudo também mostra que o setor, que emprega 30 mil funcionários no município, pode atingir 50% de desligamentos até o fim deste ano.
Enquanto isso, levantamento feito pela Associação Nacional dos Restaurantes (ANR) apontou que 35% dos bares e restaurantes com mais de uma unidade fecharam as lojas permanentemente. Durante a crise que se instalou em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, grandes restaurantes têm encontrado mais dificuldades em se manter funcionando quando comparados aos pequenos estabelecimentos do setor.
O professor Edgard Monforte Merlo, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, explica que “os grandes restaurantes têm uma estrutura e um quadro de pessoal maiores que os pequenos e, na hora de uma crise, isso passa a ser um problema ainda maior para ser resolvido”.
Com os restaurantes fechados, a única solução encontrada pelos proprietários, para evitar a falência, foi migrar para os serviços de delivery ou retirada no balcão. A medida, segundo o professor, foi facilitada graças aos aplicativos de entrega, que tiveram um crescimento significativo neste período. “Felizmente, a gente tem um sistema delivery que se desenvolveu muito com esses aplicativos. Se você não atuar nesse modelo, vai à falência, porque você tem toda uma estrutura de custos e de produção e não tem um consumidor dentro do seu restaurante.”
Apesar disso, em todo o País, restaurantes tradicionais e conceituados não tiveram opção e fecharam as portas. Mas para o professor Sérgio Sakurai, também da FEA-RP, “é perfeitamente possível que eles se recuperem desde que consigam se adaptar ao novo momento vivido pelo setor. Muitos já ouviram aquela expressão que a partir de agora a gente vai ter o ‘novo normal’, ou seja, essas casas mais tradicionais vão ter que se readequar a partir de agora, porque nosso conceito de normal vai passar a ser outro”.
A pesquisa da ANR ainda mostra que cerca de 600 mil pessoas que trabalham em bares e restaurantes foram demitidas só no Estado de São Paulo. No Brasil, o número passa de 1 milhão de pessoas. Além disso, mostra também que 76% dos donos dos estabelecimentos que buscaram novas linhas de crédito para financiar o negócio tiveram suas propostas recusadas e quase 80% precisou usar a Medida Provisória 936, referente à suspensão ou redução de jornada e salário.
Para Sakurai, além de medidas financeiras, é importante que “os poderes públicos cuidem da fiscalização dos estabelecimentos”. Segundo o professor, só a reabertura não é suficiente para a recuperação do faturamento. Evitar uma nova crise, tanto sanitária quanto financeira, é de extrema importância. “Existem medidas que são econômicas diretamente, mas existem aquelas que podem ser tomadas para que esse retorno das atividades seja bem organizado e todo mundo consiga voltar a frequentar os restaurantes sem que a gente tenha problemas futuros.”
Já para o professor Monforte, “o Poder Público pode ajudar principalmente os pequenos restaurantes dando suporte para eles migrarem para os serviços on-line”. Monfort, completando a visão de Sakurai, defende que os poderes públicos flexibilizem o horário de atendimento de bares e restaurantes. “Essa questão do período de atendimento é muito importante para a sobrevivência desses restaurantes. Se você abrir no período em que as pessoas estão no horário de trabalho, não vai ter volume. Então, o Poder Público pode colaborar, fiscalizando os espaçamentos, o atendimento, as regras de segurança; mas uma questão-chave é o período possível de atendimento.”
Monforte justifica a flexibilização de aberturas desse setor, lembrando que trata-se de um grande empregador e, portanto, de extrema importância neste período de crise. “Eu sei que é um desafio, mas é um desafio que o Poder Público precisa enfrentar para manter esse número de postos de trabalho que você tinha, ou pelo menos ter uma redução no número de demissões.”