Dietas restritivas podem causar problemas de saúde e ganho de peso

A restrição alimentar leva ao descontrole e faz o indivíduo exagerar nas refeições

 05/01/2017 - Publicado há 7 anos
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Foto: Pedro Bolle/USP Imagens
Foto: Pedro Bolle/USP Imagens

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Com a chegada do verão, revistas e sites publicam inúmeras dietas com o objetivo de ensinar como emagrecer. Sem o acompanhamento de profissionais, as pessoas fazem mudanças na alimentação que podem causar danos para a saúde e até levar ao ganho de peso posteriormente.

A nutricionista Sophie Deram, doutoranda da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), percebeu esse problema e escreveu o livro O Peso das Dietas em que retrata os efeitos causados pela restrição alimentar. Ao longo das pesquisas, Sophie percebeu que fazer dieta não era necessariamente o melhor jeito de emagrecer e que, na verdade, pode até engordar. “Comecei a estudar e ver que não funciona. É preciso tomar muito cuidado. Não somente se tem o risco de engordar como também a pessoa se torna obcecada por comida”, afirma Sophie. “Isso é uma adaptação natural do nosso cérebro que odeia restrição.”

O tipo de dieta em que se cortam grupos alimentares e diminuem as calorias faz as pessoas terem um descontrole nas refeições. “Nós não conseguimos manter o controle o tempo todo. Nosso ato de comer é muito inconsciente e quando entra o momento de cansaço ou desequilíbrio, as pessoas que estão de dieta vão descontar na comida”, afirma Sophie.

Outro problema causado pela restrição é a falta de nutrientes no corpo. “O nosso organismo necessita de todos os nutrientes, alguns em maior quantidade e outros em menor. Na falta deles, podemos ter carências nutricionais”, diz Sonia Trecco, nutricionista do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP.

Ao longo das dietas, o cérebro fica tão obcecado por comida que as pessoas passam a “comer emocionalmente”. Elas comem porque estão tristes, felizes, cansadas, ansiosas e acabam exagerando, então é necessário ensinar a se alimentar de forma mais consciente. Isso é chamado de mindful eating, que consiste na reorganização das sensações para distinguir entre fome e emoção. Isso significa que o alimento não será mais usado para suprir algum sentimento e sim para alimentar se estiver com fome. Sophie diz que, apesar disso, é importante que a pessoa não perca o prazer em se alimentar. “Se a comida está muito boa é normal se servir de novo. O prazer de comer é importante na reorganização da relação com a comida.”

Trabalhando com pessoas na prática, Sophie percebeu o quanto é difícil emagrecer. “O que mais me incomoda é que quando você estuda perda de peso no papel é tudo muito simples, como se fosse apenas fechar a boca e malhar que você emagrece”, afirma. “As pessoas diziam que era algo maior do que elas e que comiam escondido porque perdiam o controle.”

Antes de tentar emagrecer, é preciso procurar um profissional para ver qual a forma mais saudável de fazer isso. O nutricionista irá calcular uma dieta individualizada de acordo com as características do indivíduo como peso, altura, idade, sexo entre outros. Segundo Sonia, um dos erros cometidos é seguir uma “dieta da moda” que leu em uma revista ou ainda imitar a alimentação de algum conhecido que foi calculada de acordo com as próprias características.

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Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Os estudos de Sophie mostraram que 95% das pessoas que fazem dieta voltam a engordar porque isso é algo fisiológico. É o cérebro que controla o peso e não aceita a perda rápida então vai fazer de tudo para aumentar o peso. Quando a pessoa voltar a comer normalmente, ela vai se colocar numa situação de comer mais e o corpo que estava passando por uma restrição vai aproveitar para reter gordura.

De acordo com Sonia, o ganho de peso acontece porque as pessoas acreditam que depois que emagrecem, serão magras para sempre e voltam a comer errado como faziam antes.“Se a pessoa não tiver se conscientizado da necessidade da mudança de estilo de vida, se não tiver aprendido a comer corretamente e se não manter uma rotina de atividade física, a pessoa vai engordar tudo de novo e, às vezes, mais um pouco”, diz Sonia.

A fórmula para emagrecer do “jeito certo” ainda não existe e é preciso analisar o que a ciência atual está dizendo. É uma busca pela saúde e bem-estar respeitando a fome e saciedade sem tentar obrigar o corpo a ter um certo peso e sim nutri-lo. “É ensinar o indivíduo a se alimentar corretamente, pois deve ficar bem claro que a mudança alimentar é para toda vida. Se voltar a comer errado, vai engordar tudo novamente”, explica Sonia.

As redes sociais também têm uma forte influência nos jovens que decidem emagrecer. Com o surgimento de blogs que ensinam a fazer dieta e exercícios físicos, muitas pessoas decidem imitar sem a ajuda de profissionais. Sophie afirma que o ideal é não acompanhar esses blogs fitness e não seguir essas musas. “Essas mulheres não deveriam se exercitar o tempo todo. Isso é contra a natureza e só agride o corpo.”

O peso das dietas

Sophie Deram é francesa e fez doutorado na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Estuda há mais de 20 anos sobre nutrição, perda de peso, genética, psiquiatria, comportamento alimentar, obesidade e transtorno alimentar. Em 2014, publicou a edição brasileira do livro O Peso das Dietas em que ensina como ter uma alimentação equilibrada sem fazer restrições. O livro também traz receitas que não seguem os padrões para quem está acostumado a fazer dieta e é utilizado na bibliografia de faculdades de Nutrição.

Ficha técnica
Autora: Sophie Deram
Editora: Sensus
Páginas: 320


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