Durante três dias, pesquisadores dos Estados Unidos, Argentina, México, Chile, Colômbia e Irlanda irão explorar temas como o papel das intervenções psicossociais, assistenciais e não farmacológicas na doença de Alzheimer e outras demências. Este é o papel do Simpósio Internacional: tendências e desafios atuais da prática de demência na América Latina , que aborda as últimas informações sobre a saúde do cérebro e risco de demência. O Jornal da USP no Ar conversou sobre o assunto com Ricardo Nitrini, médico e professor da disciplina de Neurologia do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP.
De acordo com o professor, um dos grandes desafios para a medicina e as ciências em geral é encontrar algum tratamento para a condição de demência. Ela é cada vez mais prevalente, dado o fato de que a população está envelhecendo. Não existem formas realmente eficientes para impedir as doenças que afetam o sistema nervoso central e causam demência. “A doença de Alzheimer é a mais importante delas, mas o cérebro de pessoas idosas com demência encontra outras doenças associadas, de tal maneira que é como se o conjunto de alterações ocasionasse a perda cognitiva e comportamental.”
É importante que haja uma forte iniciativa para que as demências não se manifestem ou, ao menos, se manifestem mais tardiamente. “De um lado, o tratamento farmacológico. De outro lado, intervenções sociais, comportamentais, cuidados das pessoas ao longo da vida”, afirma Nitrini. Ele pontua que as demências se desenvolvem mais precocemente nos países como o nosso, que estão em desenvolvimento, do que em países mais avançados. Isto decorre por conta da baixa na escolaridade e alta de doenças vasculares.
“A educação protege o indivíduo na medida em que tem mais resistência ao aparecimento da manifestação clínica”: mesmo quando a doença existe, o indivíduo desenvolve estratégias que permitem com que ele conviva com a doença sem manifestações clínicas. O especialista explica que muitas doenças cerebrovasculares estão associadas com a demência, e o País “não tem controle adequado de diabetes, por exemplo, que é um fator importante para o desenvolvimento de doença cerebrovascular”.
Nitrini comenta sobre o estudo Finger (termo associado à Finlândia, onde a pesquisa está acontecendo, e geriatria). Nele, um grupo de indivíduos com idade entre 60 e 69 anos realiza exercícios físicos, atividades intelectuais e sociais, alimentação regular e controle adequado de pressão arterial, colesterol e diabete. Comparando com um grupo de indivíduos de idade semelhante que não está submetido a essa intervenção, os indivíduos treinados têm evoluído muito melhor. “Isso demonstra que mesmo indivíduos com idade um pouco mais avançada podem se beneficiar ainda de tratamento adequado de prevenção. Mas a prevenção de demências tem que se começar bem cedo: pressão alta e diabetes precisam ser consideradas durante a idade adulta.”
Em Edimburgo (Escócia), verificou-se que o desempenho de crianças aos 11 anos de idade em testes cognitivos tinha importância nos últimos anos vida quanto à ocorrência de demência. “O que a pessoa aprende nos primeiros anos de vida pode protegê-la da ocorrência de demência mais tarde. É um fenômeno bastante complexo em que educação, características sociais e nível econômico, tudo isso interfere”, avalia o professor. Quanto piores os níveis, maior o risco de demência e das doenças se manifestarem mais precocemente. “Algo que precisa ser feito é desenvolver um plano nacional para redução, controle e cuidados de todos esses fatores”, algo que já está sendo proposto em alguns países, inclusive da América Latina, afirma Nitrini.
Do ponto de vista farmacológico, o médico afirma que, apesar da enorme quantidade de investimento, os medicamentos que existem ainda se resumem a amenizar sintomas. “Podem melhorar um pouco em memória, atenção, mas é um desempenho. Aparentemente não mudam a história natural da doença, ou seja, ela continua piorando independente do tratamento.” Por conta disso, o caminho deve ser de prevenção.