Apesar dos diversos métodos contraceptivos femininos disponíveis nos dias atuais, cerca de metade das gestações no mundo não é planejada, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). O professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Jorge Hallak, e Erick José Ramo da Silva, pesquisador de medicamento à base da proteína Eppin, conversam em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição sobre um novo método contraceptivo masculino, em estudo que pode reduzir entre 15% a 20% as taxas de gestação não planejadas.
Silva explica que o método inibe a mobilidade do espermatozoide após a ejaculação e se difere dos métodos hormonais, os quais focam na inibição do espermatozoide através do bloqueio da produção de hormônios sexuais. “[O método hormonal] é muito semelhante ao que acontece com a mulher, com a diferença que se leva meses para que esse efeito contraceptivo se estabeleça”, afirma ele.
Um grande avanço
Para Hallak, o estudo é revolucionário por se diferenciar das pesquisas que focavam na inibição do reconhecimento do espermatozoide pelo óvulo e, assim, não conseguiam ser sustentáveis, pois 100% dos gametas masculinos achavam um caminho alternativo para concluir a fecundação. Além disso, ele atenta para os efeitos adversos do bloqueio hormonal: “O testículo produz hormônios diariamente. A questão de você inibir o homem com uma sobrecarga hormonal sempre tem um efeito contrário, ou seja, você acaba inibindo o testículo e ele acaba se atrofiando. Então, quando ele parar de usar aquele hormônio, ele não vai ter a mesma capacidade”.
Ambos os entrevistados reconhecem a paternidade responsável como um dos objetivos do estudo. “Quando a gente fala de contracepção masculina, nós estamos pensando além da questão reprodutiva do homem, mas da família. Um método masculino vai não só contribuir para reduzir esse número grande de gestações não planejadas como colocar o homem numa posição de contribuir com o planejamento familiar e com sua parceira nessa ação que hoje é toda focada na mulher”, afirma Silva.
Ele informa ainda que toda a pesquisa se encontra em fase pré-clínica, no nível de estudos em animais, e que futuramente o desejo é migrar para os testes em humanos: “Na próxima etapa, vamos seguir desenvolvendo, conhecendo melhor como ela [proteína Eppin] funciona, na tentativa de identificar onde na motilidade ela atua, para que a gente possa chegar no estágio de ter algumas moléculas que a gente possa testar como inibidores da mobilidade espermática”.
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