Contraceptivo masculino em estudo inibe a mobilidade do espermatozoide sem uso de hormônio

Segundo Jorge Hallak e Erick José Ramo da Silva, a pesquisa, ainda em andamento, é revolucionária ao diferenciar-se das que focam na inibição do reconhecimento do espermatozoide pelo óvulo

 11/04/2022 - Publicado há 3 anos
O estudo é revolucionário por se diferenciar das pesquisas que focavam na inibição do reconhecimento do espermatozoide pelo óvulo -Foto: Alexander Klepnev via Wikimedia Commons/CC BY-SA 4.0
Logo da Rádio USP

Apesar dos diversos métodos contraceptivos femininos disponíveis nos dias atuais, cerca de metade das gestações no mundo não é planejada, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). O professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Jorge Hallak, e Erick José Ramo da Silva, pesquisador de medicamento à base da proteína Eppin, conversam em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição sobre um novo método contraceptivo masculino, em estudo que pode reduzir entre 15% a 20% as taxas de gestação não planejadas. 

Erick José Ramo da Silva – Foto: Fapesp

Silva explica que o método inibe a mobilidade do espermatozoide após a ejaculação e se difere dos métodos hormonais, os quais focam na inibição do espermatozoide através do bloqueio da produção de hormônios sexuais. “[O método hormonal] é muito semelhante ao que acontece com a mulher, com a diferença que se leva meses para que esse efeito contraceptivo se estabeleça”, afirma ele.   

Um grande avanço

Para Hallak, o estudo é revolucionário por se diferenciar das pesquisas que focavam na inibição do reconhecimento do espermatozoide pelo óvulo e, assim, não conseguiam ser sustentáveis, pois 100% dos gametas masculinos achavam um caminho alternativo para concluir a fecundação. Além disso, ele atenta para os efeitos adversos do bloqueio hormonal: “O testículo produz hormônios diariamente. A questão de você inibir o homem com uma sobrecarga hormonal sempre tem um efeito contrário, ou seja, você acaba inibindo o testículo e ele acaba se atrofiando. Então, quando ele parar de usar aquele hormônio, ele não vai ter a mesma capacidade”.   

Jorge Hallak – Foto: Arquivo Pessoal

Ambos os entrevistados reconhecem a paternidade responsável como um dos objetivos do estudo. “Quando a gente fala de contracepção masculina, nós estamos pensando além da questão reprodutiva do homem, mas da família. Um método masculino vai não só contribuir para reduzir esse número grande de gestações não planejadas como colocar o homem numa posição de contribuir com o planejamento familiar e com sua parceira nessa ação que hoje é toda focada na mulher”, afirma Silva.  

Ele informa ainda que toda a pesquisa se encontra em fase pré-clínica, no nível de estudos em animais, e que futuramente o desejo é migrar para os testes em humanos: “Na próxima etapa, vamos seguir desenvolvendo, conhecendo melhor como ela [proteína Eppin] funciona, na tentativa de identificar onde na motilidade ela atua, para que a gente possa chegar no estágio de ter algumas moléculas que a gente possa testar como inibidores da mobilidade espermática”. 


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.