Apesar da alimentação dos brasileiros ter uma base saudável, o consumo de produtos ultraprocessados aumentou, enquanto o de arroz e feijão está em queda, segundo dados levantados entre 2017 e 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo NutriNet Brasil, da USP, observou que, durante a pandemia, os voluntários da pesquisa aumentaram o consumo de produtos in natura, como hortaliças, frutas e feijão, mas, nas regiões Norte e Nordeste, o consumo de ultraprocessados aumentou.
Mas o que são os alimentos ultraprocessados? São produtos industrializados que contêm adição de muitos ingredientes, como açúcares, sais, adoçantes, corantes, aromatizantes e conservantes. Segundo a professora Renata Bertazzi Levy, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP e pesquisadora do estudo NutriNet Brasil do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP, os adolescentes são os que mais consomem esse tipo de produto, mas, ainda, assim, os alimentos in natura ou minimamente processados constituem cerca de 70% da alimentação brasileira.
Apesar dos dados do IBGE terem registrado aumento do consumo dos produtos industrializados, a professora compartilha que esse aumento sofreu uma desaceleração quando comparado aos estudos feitos em 2003 e 2009. Portanto, “o brasileiro continua ainda comendo muitos alimentos in natura e minimamente processados”. Quanto à queda no consumo de arroz e feijão, apontada pelo IBGE, Renata informa ser uma tendência que preocupa os especialistas em nutrição, já que, além de saudáveis, o arroz e o feijão fazem parte da tradição brasileira: “A queda do arroz e feijão vem acontecendo há muito tempo no País e é uma coisa que nós, profissionais ligados à alimentação, estamos tentando reverter, porque o Brasil tem uma tradição culinária muito forte e o arroz e o feijão são quase uma fotografia dessa tradição. Têm vários estudos que mostram os efeitos benéficos da cozinha tradicional brasileira, do prato arroz, feijão e salada”.
O levantamento do estudo NutriNet Brasil, durante a pandemia, aponta ainda que foi constatado o aumento do consumo de produtos in natura entre a maioria dos participantes, mas, nas regiões Norte e Nordeste, houve alta do consumo de ultraprocessados. Depois do início da pandemia, “tivemos uma melhora do consumo de frutas, hortaliças e feijão. Teve uma estagnação no consumo de alimentos ultraprocessados no País como um todo. Porém, observamos também que as regiões Norte e Nordeste e o estrato de menor escolaridade da pesquisa apresentaram um aumento no consumo de alimentos ultraprocessados”, compartilha a professora.
Para Renata, o aumento do consumo de ultraprocessados no Brasil é preocupante, principalmente porque esse tipo de produto está ligado a comorbidades que agravam a manifestação da covid-19 no organismo, como diabete, obesidade, hipertensão e doenças cardíacas. O estudo NutriNet Brasil pretende acompanhar a alimentação de 200 mil brasileiros durante dez anos, a fim de observar a relação entre a alimentação e a ocorrência de doenças no País. Para ser voluntário, basta acessar o site nutrinetbrasil.fsp.usp.br.
(matéria atualizada em 15/10)