O programa Ambiente É o Meio desta semana conversa com a professora Juliana Neves Barros, do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) sobre seu trabalho de mestrado O Desencantamento das Águas no Sertão – Crenças, Descrenças e Mobilização Social no Projeto de Transposição do Rio São Francisco.
A transposição é um projeto de construção de dois grandes canais (Eixo Norte e Eixo Leste) que vão dividir as águas do Rio São Francisco entre os Estados do Nordeste brasileiro, que sofrem com longos períodos de seca, como Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. O projeto nasceu em 2003, durante a gestão Lula, porém as obras somente começaram em 2007 e seguem até hoje.
Juliana conta que, ao longo desses 13 anos, a transposição levantou vários argumentos contra e a favor do desvio de águas. Grupos que tentaram barrar a construção dos canais apontaram a falta de participação popular e denunciaram irregularidades no licenciamento ambiental, afirmando que os diagnósticos de comunidades afetadas estavam incompletos. Denúncias essas que, segundo a professora, se concretizaram. “As empreiteiras começaram a dizer que o solo é mais pedregoso, mais duro do que se imaginava”, evidenciando falta de planejamento, segundo a professora.
Já entre os argumentos favoráveis à transposição das águas do São Francisco, Juliana cita dissonâncias, argumentando que “mudavam conforme o público para o qual eram direcionados”. Enquanto o governo da época fazia discursos para as comunidades do interior do Nordeste com conteúdo de preocupação com o abastecimento de água, os documentos técnicos na verdade tinham foco na modernização de projetos de irrigação e de mineração no Nordeste setentrional. “Eram discursos pautados para o meio empresarial, mas na ponta e na grande mídia de massa veio essa ideia da água para a população mais sedenta.” Para a professora, o discurso da seca, na verdade, “é uma construção social para esconder as desigualdades de poder”.
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