A Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou recentemente que a produtividade no Brasil caiu 4,5% apenas em 2022. A produtividade de um país é calculada dividindo o Produto Interno Bruto (PIB) – simplificadamente, a soma de tudo que foi produzido no país – pelo número de horas trabalhadas. Nos últimos 40 anos a taxa média de crescimento da produtividade do trabalhador brasileiro foi de 0,6% ao ano, uma das mais baixas do mundo.
Esse fato explica muitos dos problemas que temos na economia. Por exemplo, exportamos muito pouco para o exterior: nossas exportações representam menos de 1% das exportações mundiais apesar de sermos 3% da população do planeta. E nossas exportações são constituídas basicamente por produtos agrícolas e minerais, por sinal o lado mais produtivo de nossa economia. Em termos de produtos manufaturados somos apenas 0,2% das exportações mundiais, justamente o lado menos produtivo.
Outro fato lamentável e que se deve a nossa baixa produtividade é que as empresas brasileiras não conseguem atuar com sucesso fora do Brasil e quando examinamos as listas que apresentam as maiores empresas do mundo, por exemplo, a da revista Forbes, verificamos que entre as 2 mil empresas mais importantes existem apenas 20 brasileiras. Nossas empresas industriais não conseguem competir com as empresas estrangeiras nem lá fora nem aqui dentro. Ou seja, não são competitivas. Essa é uma das principais consequências da baixa produtividade e que acaba por prejudicar toda economia. Quanto mais desenvolvido um país, mais competitivas são suas empresas locais.
E por que essa mazela acontece? Há várias razões e vamos nos deter nas mais importantes. Em primeiro lugar, o ambiente externo às empresas – também chamado ambiente de negócios – é muito ruim no Brasil e isso prejudica as empresas fazendo com que suas respectivas produções sejam mais caras que no exterior. Bom exemplo é o custo de transporte de mercadorias, que em nosso país é um dos mais caros do mundo, fundamentalmente porque é feito por caminhões. Na maior parte dos países desenvolvidos o transporte de mercadorias é quase todo feito por ferrovias, o qual é muito mais seguro e barato. Outra variável que impacta negativamente é a carga tributária, pois empresas pagam muitos impostos no Brasil sem se considerar a enorme burocracia que também é prejudicial. Temos também um problema com a qualidade da nossa mão de obra, que é considerada baixíssima, o que é explicado pelo baixo nível educacional do País.
A falta de investimentos é um problema dos mais sérios do País e repercute diretamente na produtividade. Falamos acima que não há ferrovias; na verdade, toda nossa infraestrutura é muito deficiente e isso é resultado do baixo investimento governamental, o qual por sua vez é consequência das dificuldades fiscais do País, já que há muitos anos o governo federal gasta mais do que arrecada. Com isso temos verificado anualmente, pelo menos desde 2015, que não sobra quase nada para se colocar na conta de investimentos. Por outro lado, a empresa privada também não investe. Ela poderia adquirir máquinas mais modernas ou novas tecnologias que aumentariam sua produtividade. Mas ela não o faz por diversas razões, a mais importante sendo as altíssimas taxas de juros. Para o empresário é muito melhor aplicar seu capital (quando este existir) em títulos do governo, que hoje pagam quase 14% ao ano. Dificilmente comprando uma máquina que aumentaria a produtividade da sua empresa ele conseguiria uma rentabilidade tão alta. Como consequência, nossas empresas estão muito atrasadas em termos de maquinários e tecnologia.
Enfim, há diversos fatores minando nossa produtividade e tornando nossas empresas menos competitivas. A maioria dos problemas depende de soluções que precisam partir dos governos e do setor público. Isso deixa a solução ainda mais distante e, o que é pior, solucionar estes gargalos não traz votos. Esperamos pelo menos que os governos que estão iniciando neste 2023 tomem consciência da importância de seu papel e tratem o tema com a prioridade que merece.
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