Moradores do Bexiga lutam pela estação de metrô Saracura-Vai-Vai com ruínas incorporadas

A Escola de Samba foi removida do lugar para que fosse criada uma estação da Linha 6 do metrô, mas a arqueologia encontrou vestígios e ruínas do Quilombo do Saracura no local

 Publicado: 25/07/2024

Na coluna desta semana, Raquel Ronlik comenta sobre a Estação Saracura do Metrô, que continua causando mobilizações no bairro. A luta dos moradores é para garantir o reconhecimento do Bexiga, inclusive pelo nome Saracura  – Vai-Vai.  A estação que foi denominada inicialmente como 14 Bis, mas a Escola de Samba Vai-Vai foi removida do lugar aonde estava para que fosse criada, naquele espaço, uma estação da Linha 6 do metrô. “É uma luta do bairro, porque exatamente onde está essa estação é também um local onde existiu historicamente um quilombo, o Quilombo do Saracura. Os vestígios desse quilombo começaram a ser encontrados no momento em se começou a fazer arqueologia ali, durante a escavação.”

A professora explica que quando começam a fazer grandes obras é necessário ter uma arqueologia. “E essa arqueologia, quando apareceu, houve toda uma pressão  das organizações de negros do Bexiga para que se identificasse ali os vestígios do quilombo, porque a história do Bexiga mostra que a região foi um território negro e continua sendo um território negro da cidade de São Paulo.” A pesquisa arqueológica encontrou os vestígios e agora foram encontradas as ruínas, talvez da mais antiga estrutura de drenagem, intervenção no próprio Rio Saracura ali. E a proposta do movimento é preservar essas estruturas históricas dentro da própria estação do metrô ,ou seja, uma estação de metrô que incorpora essas ruínas e que usa exatamente esse lugar para contar a história e afirmar a presença desse território negro no Bexiga”, conta a urbanista.

O metrô tem indicado que a demora das discussões inviabilizou a estação, o que vai prejudicar o bairro. Para a professora, está claro que se trata de uma chantagem porque é absolutamente possível o metrô rever esse projeto o projeto, mesmo que essa questão não estivesse colocada no momento que se fez um projeto.  “Existem várias estações de metrô pelo mundo afora que incorporam ruínas.  Um exemplo é o da cidade do Porto, em Portugal, que a estação Campo 24 de Agosto tem uma ruína . Inclusive de uma antiga estrutura de um reservatório de águas construídos no século 16.

Para a colunista, é possível e é muito importante o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) reconhecer que as ruínas devem fazer parte da estação pós-arqueologia. E o bairro do Bexiga está absolutamente unido para defender que essa Estação tem que existir. sim, e tem que existir afirmando aquilo que o bairro deseja que seja afirmado.


Cidade para Todos
A coluna Cidade para Todos, com a professora Raquel Rolnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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