O paradoxo das tecnologias precisa ser identificado e superado

Muitas vezes a proposta inovadora no aspecto tecnológico acaba inviabilizada na prática por falta de estrutura daquele centro de saúde para dar o necessário apoio ao desenvolvimento adquirido

 Publicado: 03/07/2024

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Avanços tecnológicos na área da saúde permitem melhorar o diagnóstico, dar mais conforto e mais eficácia nos resultados de tratamento e de reabilitação de doenças, diz o professor Eduardo Rocha na abertura de sua coluna. De acordo com ele, tratamentos podem ser caros num primeiro momento pela incerteza de resultado, falta de competidores e proteção intelectual dada pelas patentes. Num segundo momento, porém, a competição, a entrada de novos concorrentes, o aumento na produção tornam a nova terapia bem mais acessível para servir mais e melhor as pessoas que precisam. Ele nota, contudo, que, quando a comprovação da eficácia foi superada, o paradoxo da ampliação da cobertura populacional aparece. “O que é isso? Um grande exemplo foi observado quando as incubadoras, para dar suporte respiratório para bebês nascidos prematuros, foram finalmente descobertas e comprovadas. Esse equipamento melhora muito o tratamento e a vida dos prematuros, funcionou nos grandes centros e hospitais modernos e teria um potencial bastante útil em regiões remotas do planeta, onde acompanhamento pré-natal de gestação de risco é difícil e o problema da prematuridade acontece em maior proporção.”

Ocorre, porém, que, ao prover pequenos hospitais distantes em localidades remotas, com incubadoras para tratar de bebês prematuros, a proposta inovadora no aspecto tecnológico acaba se mostrando ineficaz por falta de estabilidade elétrica ou falta de equipe especializada para dar suporte técnico quando esses equipamentos apresentam problema, o que acaba por revelar esse paradoxo tecnológico e a limitação dessas incubadoras em regiões remotas. “Os tratamentos oculares não param de avançar a cada dia, o paradoxo dessa transposição de um recurso avançado bem-sucedido em centros modernos para regiões mais remotas também costuma surpreender”, revela o colunista. “A implementação ou difusão acabam encontrando barreiras que podem ser da estrutura de saúde, da infraestrutura para dar suporte, barreiras culturais, entre outras razões. Um exemplo é o das microcirurgias como catarata, glaucoma, retina, que, tendo avançado na rapidez da realização, na recuperação dos pacientes e são ótimas para reverter ou conter avanço da cegueira, encontram dificuldades para manter resultado de médio e de longo prazo em localidades remotas pela falta de estrutura para acompanhamento periódico das pessoas submetidas a elas.” Segundo Rocha, esses paradoxos e suas causas precisam ser identificados e superados para dar às pessoas que precisam uma melhor acessibilidade e oportunidade de boa saúde.


Fique de Olho
A coluna Fique de Olho, com o professor Eduardo Rocha, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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