A professora Raquel Rolnik aborda como tema de sua coluna a polêmica em torno da discussão e votação da revisão do Plano Diretor da cidade de São Paulo, focando no substitutivo do relator, vereador Rodrigo Goulart, que aumentou a área de construção de prédios mais altos em torno dos eixos de transportes coletivo de massa, ou seja, Metrôs, trens e corredores de ônibus, tudo em prol de uma verticalização da cidade, processo esse que tem levado a uma intensa produção imobiliária – à qual nem sempre privilegia a moradia de caráter social – e que ameaça desfigurar e descaracterizar bairros tradicionais da cidade.
Segundo a colunista, o substitutivo apresentado pelo vereador Goulart, em vez de repensar e introduzir alguma espécie de planejamento mais local, em que se pudesse pensar melhor a respeito de que formas e de que tipos de transformações seriam melhores para aquela determinada região, simplesmente aumentou a área de construção de edifícios em torno dos eixos de transporte coletivo. “Isso vai sobrepondo um com o outro, também aumentou as áreas que não são perto do transporte coletivo, a possibilidade de verticalizar – em primeiro lugar, como se a discussão única da cidade fosse ‘onde posso verticalizar, sim ou não’; em segundo lugar, não levando nada em consideração aquilo que foi colocado dentro do debate público.”
O resultado é que o Ministério Público quer saber das justificativas para essas mudanças propostas pelo relator, um questionamento que ainda não recebeu resposta da Prefeitura e da Câmara Municipal, que havia marcado para ontem, quarta-feira (31), uma primeira votação desse projeto.
“E é muito importante a gente entender que, muitas vezes, quando a gente coloca questionamentos em relação à forma como isso tem sido conduzido na cidade, se coloca como um movimento antiverticalização […] não necessariamente toda reação contra uma verticalização, que é totalmente homogênea, é porque não quer democratizar o lugar, até porque muitas das verticalizações produzidas não democratizaram, no sentido de trazer mais gente de menor renda, permaneceu mais ou menos o mesmo grupo social que está […] O único valor é a rentabilidade, é quanto mais metros quadrados de área construída mais vai poder fazer – todas as diferenças de paisagem, de topografia, de ambiente, de calor, de inundação, de história, de memória, de características simplesmente não aparecem no debate”, conclui a colunista.
Cidade para Todos
A coluna Cidade para Todos, com a professora Raquel Rolnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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