A circulação nas grandes cidades do Brasil é o tema da coluna semanal da professora Raquel Rolnik, da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP). Ela começa sua análise admitindo que a maioria das grandes cidades brasileiras enfrenta, hoje em dia, congestionamentos gigantes de veículos, tal o aumento – fruto do crescimento econômico das últimas décadas – no número de automóveis e motocicletas. Nem sempre foi assim, porém. Nas décadas de 1930 e 1940 do século passado, o modo de circulação nas grandes metrópoles se dava basicamente por meio de linhas férreas (bondes e trens), o que começa a mudar a partir dos anos 50, com a introdução do transporte sobre pneus (carros, ônibus e caminhões).
Rolnik nota, porém, que a mudança não atingiu apenas o modo como as pessoas circulam , mas também a forma como elas se concentram nas grandes metrópoles. O fato, segundo ele, é que a circulação por pneus tornou as cidades menos densas, mais dispersas em zonas periféricas, obrigando os moradores dessas regiões a se valerem dos ônibus para se locomoverem para o trabalho, e deste para suas moradias, localizadas em áreas distantes dos centros urbanos.
Moral da história: criou-se um transporte coletivo – e de baixa qualidade – executado exclusivamente por ônibus, os quais ligavam a periferia ao centro. A classe média, por sua vez, passou a circular de automóvel. Segundo Rolnik, esse modelo acabou entrando em colapso nos últimos anos, já que a cidade se ressente da falta de um transporte coletivo de qualidade, capaz de servir todas as regiões da metrópole com eficiência. Aproveitando a deixa, a professora da FAU também fala da priorização, de uns anos para cá, que se tem dado ao transporte coletivo nas grandes cidades.