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A defesa, seja de um país ou de um indivíduo, é um tema que precisa ser discutido frequentemente. Em nível nacional, os países instituem forças armadas e policiais como instrumentos para prover segurança para a população. O Brasil, como um país com uma grande extensão territorial e riquezas naturais, entra na mira de outras nações e precisa encontrar formas de se proteger.
De acordo com o general de Exército da reserva, Sérgio Ernesto Alves Conforto, existe o risco de o Brasil entrar em algum tipo de conflito futuramente. “Esse mundo está num grau de incerteza tão grande e as coisas andam tão complicadas que dificilmente é possível fazer a previsão de um destino seguro”, afirma. Pelo mundo inteiro estão ocorrendo conflitos com países interferindo na política interna de outros. “A gente percebe que nós, como uma nação muito rica e com coisas que são cobiçadas, precisamos ter uma defesa condizente com o tamanho do Brasil.”
Entre as causas possíveis de conflito no século 21 estão: espaço cibernético, áreas marítimas, domínio aeroespacial, água doce, alimentos, energia e biodiversidade. No caso do espaço cibernético, as ameaças evoluem a cada dia e é preciso se manter atualizado para não ser ultrapassado. “O espaço cibernético é vital para a humanidade. Todas as informações, obras, trabalhos científicos circulam nesse espaço. Se você não tiver condições de assegurar o sigilo que você deseja ou impedir que alguém entre nas suas redes para saber o que você está fazendo ou te prejudicar, você está morto”, enfatiza o general.
Com essas tecnologias é possível um país que está distante interferir no sistema de outro. “O que nós vemos hoje de pessoas com o celular na mão o tempo todo para conversar, jogar, trabalhar. Imagina se isso vier a ser interrompido ou hackeado. E isso não é difícil”, diz o general. As nações mais poderosas investem nisso, como no caso dos norte-americanos que escutavam as conversas da então presidente Dilma Rousseff. “Isso é inevitável, porque é do interesse deles e eles podem fazer. Se você não tiver um domínio, pelo menos do seu espaço cibernético, você está nas mãos dos possíveis adversários.”
Com o aumento da população mundial, a disputa por alimentos e, consequentemente, terras férteis, também são um risco para o futuro. O Brasil, conhecido por ter espaços grandes, clima adequado e água para plantações, entra na mira de outros países.
O general diz que é um erro eleger uma causa como a “mais iminente” para fazer o Brasil entrar em um conflito porque, ao fazer isso, estamos escolhendo um adversário e isso não deve ser feito. Não era possível prever, no início do século 20, acontecimentos como a 1ª e a 2ª Guerra Mundial, Cortina de Ferro e a Guerra Fria. “É preciso construir o destino através de ações estratégicas que alcancem seus objetivos. Se um dos objetivos é se sentir seguro, você precisa ter uma defesa condizente para lutar contra qualquer um dos motivos possíveis”, explica.
De acordo com o general, as pessoas normalmente esperam que as instituições as quais elas pertencem tomem providências para gerar segurança. Segundo ele, existem medidas que as pessoas podem tomar para garantir sua proteção. “Dentro de casa é possível colocar grade na janela e na portaria dos prédios tem o porteiro para controlar a entrada de pessoas. Outras pessoas que manuseiam coisas de valor contratam seguranças ou andam armadas.”
Apesar de serem termos parecidos, Conforto afirma que segurança e defesa são coisas diferentes. Segurança é um estado em que as pessoas se sentem livre de ameaças e defesa, é o instrumento para que as pessoas se sintam seguras. Essa defesa pode ser contra uma ameaça visível e próxima ou contra algo que pode vir a acontecer, como uma prevenção. “Isso é o que constitui a filosofia das Forças Armadas do Brasil: ter o mínimo de força suficiente para desencorajar ações que possam ser ameaças”, finaliza.
Evento na USP
O Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP realizou, no dia 29 de novembro, o evento A Defesa no Brasil que contou com a participação do general Conforto. A palestra fez parte do Ciclo de Diálogos Estratégicos que planeja trazer vários tipos de pessoas para apresentar sua visão sobre um tema de forma crítica.
Segundo Guilherme Ary Plonski, vice-diretor do IEA, A Defesa no Brasil foi escolhido justamente para chamar atenção de que o tema não é apenas uma questão militar e sim uma questão da sociedade como um todo. Ele ainda afirma que é importante discutir esse assunto dentro da USP porque existe um conjunto de competências que podem ajudar essa discussão a ter um material sólido de apoio e reflexão. “A gente precisa trazer temas importantes para estudantes discutirem como parte do processo de formação. Aqui nós temos a obrigação de criar e manter um ambiente em que temas sejam discutidos de forma intensa, mas com civilização”, diz Plonski.
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