“A nação quer mudar. A nação deve mudar. A nação vai mudar”

Por Luiz Roberto Serrano, jornalista e coordenador editorial da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP

 07/10/2022 - Publicado há 2 anos

Até o próximo dia 30 de outubro, os eleitores brasileiros terão que tomar uma decisão. Entre a luz ou o atraso (chegariam a ser trevas?). A luz significa a construção de uma sociedade rica, mais justa e igualitária. O atraso, uma sociedade injusta, com riqueza concentrada, pairando sobre populações remediadas e cercadas por pobreza. Grosso modo, essa será a escolha posta na mesa, ou melhor, nas urnas.

O Brasil já caminhou no sentido de uma sociedade mais iluminada, um pouquinho mais justa, com boas perspectivas para todos. Mas o sacolejo que essa caminhada causou na porção conservadora da nossa sociedade e os erros e arroubos cometidos pelos então instalados no poder possibilitaram um impeachment e, ao fim e ao cabo, alguns anos depois, a ascensão de uma improvável falange retrógrada ao Palácio do Planalto.

Desde então, a iluminação um dia vinda de Brasília feneceu e, tudo que foi construído antes, foi solapado, desconstruído. O Brasil andou para trás, apesar dos inúmeros e importantes bolsões de resistência, de resiliência, espalhados pelo País. Até o fim deste mês, está nas mãos dos eleitores brasileiros confirmar a reversão desta história, como já apontou o dia 2 de outubro passado.

Graças a uma feliz e histórica – e até irônica – coincidência toda essa escolha se dá no ano em que o Brasil comemora os seus 200 anos de Independência – que o atual governo nem se preocupou em comemorar.

A imensa maioria dos que se debruçaram sobre a Independência e a analisaram – especialmente nesta universidade, mas não só – ressaltou que ela ainda está incompleta, tendo muito que caminhar para se tornar abrangente e beneficiar, de fato, as camadas mais pobres e desfavorecidas da população. Nem a República, proclamada há 133 anos, teve o mérito de avançar. Os interesses historicamente dominantes permanecem, se não se reforçaram. Quando muito entregaram os anéis preservando todos os dedos – criando novos anéis.

A República brasileira nasceu sem povo, cresceu preservando disputas oligárquicas e tropeçou numa troca de guarda em 1930.

Em seguida, abrigou duas ditaduras, uma, em 1937, derrubada em 1945, com um animado intervalo democrático até a outra, de 1964. Sua derrubada, que resultou na Nova República de 1985, foi conquistada a duras penas. Quem viveu sabe o que aconteceu.

Apesar de tudo que se construiu desde 1985 na direção de uma democracia, especialmente a Constituição Cidadã de 1988, o País, inesperadamente, entrou em parafuso possibilitando a ascensão à Presidência da República de incompreensíveis saudosistas daquela ditadura de 1964.

É um desarranjo e tanto, que ainda precisa ser debatido, analisado em suas raízes, pois como foi possível ao Brasil chegar a esse estado de coisas? Como se deu e dá o embate entre as forças políticas, sociais e econômicas que nos trouxeram à atual conjuntura, depois do promissor horizonte que foi construído a partir da Nova República?

Independentemente desse debate, aos trancos e barrancos, reorganizando suas forças, superando diferenças, apostando na esperança, milhões de brasileiros votaram numa porta de saída no último dia 2 de outubro. Uma porta que aposta na reconstrução deste país.

Será fácil? Evidentemente que não, diante dos estragos e enganos que foram plantados e adubados principalmente a partir de Brasília nos últimos anos.

Será uma tarefa que exige o esforço de todos os que acreditam que o Brasil saiu dos trilhos, se não descarrilou, nos últimos anos. À medida que andamos na direção do segundo turno os próceres políticos que trabalham e sempre trabalharam a favor de um Brasil social e economicamente justo, que produza e cresça beneficiando a todos, sintonizado com o que há de melhor no mundo, estão pulando no barco da esperança, que navega para um porto longínquo destes tempos obscuros.

O porto onde reverberam palavras de Ulysses Guimarães, em seu discurso de abertura da Assembleia Nacional Constituinte, em 1987: “Ecoam nesta sala as reivindicações das ruas. A nação quer mudar. A nação deve mudar. A nação vai mudar”.


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