Reciclagem de uniformes gera produtos sustentáveis

Projeto Retalhar traz solução para problema de logística reversa. Ideia surgiu durante curso na USP

 26/10/2016 - Publicado há 8 anos
Fibra têxtil obtida do desfibramento de uniformes descartados por grandes empresas – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Uma ideia inovadora de negócio que começou a ser fomentada durante o curso de graduação na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP propõe soluções para problemas sociais e ambientais a partir da reciclagem de uniformes profissionais.

A Retalhar atua na logística reversa da cadeia têxtil, oferecendo um serviço para clientes que precisam descartar uniformes velhos e sem uso. Este trabalho evita que sobras de tecidos acabem em aterros sanitários ou sejam incineradas, um processo adotado por muitas empresas, que aplicam essa forma de descarte por questões de segurança, com o intuito de impedir que o uniforme seja reaproveitado.

O negócio ainda é pequeno e jovem – o início foi em janeiro de 2014-, mas já conquistou prêmios e bons resultados. A Retalhar já fez a gestão de 12 toneladas de uniformes de grandes empresas, como a companhia aérea Latam e a empresa de correspondências FedEX, além de concessionárias de rodovias estaduais paulistas e muitas outras.

A ideia do projeto surgiu, inicialmente, de uma parceria entre os amigos Jonas Lessa, gestor ambiental, e Lucas Corvacho, biólogo marinho. Com o tempo, mais pessoas se integraram ao projeto, como o designer industrial Leonardo Carvalho, a contabilista Juliana Vilas Boas e a advogada Raffaela Loffredo.

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Os amigos Lucas Corvacho e Jonas Lessa, criadores do Retalhar – Foto: Marcos Santos/USP Imagens e Divulgação/EACH

“Percebemos a existência de um nicho de trabalho junto aos resíduos têxteis, pois no Brasil quase não se faz nada. Daí nossa ideia de fazer a gestão ambiental desses resíduos que, além de ser um grande problema para o meio ambiente, é também uma oportunidade de trabalho social”, explica Jonas Lessa, formado em Gestão Ambiental pela EACH.

Oportunidade que Lessa aproveitou para estimular a economia solidária. É que parte dos tecidos descartados serve de matéria-prima para produção de brindes às empresas que contratam o serviço da Retalhar, ou mesmo cobertores para doação. Quem produz esse material são costureiras de cooperativas, como as artesãs do grupo Cardume de Mães, em Taboão da Serra.

Segundo a costureira Eliane Marques e suas colegas, trabalho é que não falta. A pedido da Retalhar, já montaram bolsas, nécessaires e ecobags. “Para nós, esse trabalho não representa apenas geração de renda, mas também conscientização do descarte do material feito na natureza”, analisa. E Lessa vai ainda mais além: “Nosso sonho é dar empoderamento para as mulheres que participam das cooperativas de costura”.

Processo e produto

Antes de se tornarem um produto sustentável, os uniformes descartados que chegam à Retalhar passam pelas mãos de Vinicius Sampaio de Souza, aluno do ensino médio, que faz a triagem, tira todos os aviamentos das roupas, como botões, zíperes, elásticos e também os logotipos das empresas, e os encaminha para a higienização.

A partir daí, o tecido pode ser triturado e desfibrado para ser recosturado pelas cooperativas de costureiras, que irão transformá-lo em materiais de acordo com o pedido da empresa que contratou o serviço. Algumas delas pedem que os retalhos sejam usados para confeccionar brindes, como sacolas e almofadas, ou cobertores para doação.

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Quando tudo começou

Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Uniformes para reciclar – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A ideia da Retalhar começou a germinar durante a disciplina Princípios da Administração, ministrada pela professora Sylmara Gonçalves-Dias no curso de Gestão Ambiental na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, onde Jonas Lessa estudou e desenvolveu seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

O projeto foi apoiado pela professora Sylmara, que sempre achou a ideia inovadora e com resultados muito positivos para o meio ambiente. “São 91 metros cúbicos de resíduos que poderiam ir para aterros, evitando 180 toneladas de gás carbônico na natureza”, analisa.

O mais importante da Retalhar, para a professora, é a sensibilidade dos jovens em envolver as costureiras neste modelo de empreendimento, com olhar atento ao impacto social da cadeia têxtil, uma das que mais empregam mão de obra escrava no mundo todo. “Os empreendedores da Retalhar pensam nas costureiras de uma forma mais digna nesta cadeia de produção, remunerando-as dignamente e buscando ampliar a competência delas”, observa a professora.

E os jovens querem mais. Pensam em cursos de aperfeiçoamento para as costureiras da rede, cursos de gestão para seus filhos e em abrir linhas de pesquisa ligadas ao negócio.

Prêmio Empreendedorismo Social

Jonas Lessa e Lucas Corvacho, da Retalhar, estão entre os finalistas do Prêmio Empreendedor Social 2016, realizado pelo jornal Folha de S. Paulo em parceria com a Fundação Schwab, uma das comunidades ligadas ao Fórum Econômico Mundial.

Eles concorrem na categoria Empreendedor Social de Futuro, para líderes de até 35 anos à frente de organizações em fase de consolidação.

A Retalhar ainda concorre na categoria Escolha do Leitor, na qual o público pode votar em seu projeto preferido. A votação popular é feita no site da Folha, no qual cada candidato apresenta sua trajetória e as transformações frente aos seus projetos em vídeos de um minuto de duração. O vencedor da escolha popular será conhecido no dia 7 de novembro, na cerimônia de premiação a ser realizada no Teatro Porto Seguro, em São Paulo.

A votação vai até o dia 2 de novembro, no site da Folha.


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