Onde trabalham os médicos formados na Faculdade de Medicina da USP?

Segundo o estudo, em sua maioria (52,8%), esses profissionais trabalham ao mesmo tempo nos setores público e privado, e apenas 10,1% não têm vínculo privado, o que evidencia a importância da FMUSP para o Sistema Único de Saúde

 08/03/2022 - Publicado há 2 anos

A pesquisa pode estimular e incentivar debates a respeito de mudanças que impliquem na inter-relação dos alunos de Medicina USP com a atenção primária, valorizando esse segmento do sistema de saúde. Na foto, atendimento médico – Foto: Pixabay

 

Por Margareth Artur/Revistas da USP

Os vestibulares no Brasil mostram que o curso de Medicina é um dos mais procurados e um dos mais disputados, principalmente quando se pretende estudar na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Mas, conquistada a vaga na faculdade, qual o destino dos formandos? Essa questão é o ponto de partida para o artigo publicado na Revista de Medicina: Onde trabalham os médicos formados na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo?

O trabalho de investigação com formados em 1999, 2000, 2009 e 2010 deixa claro que a maioria dos formados pela FMUSP opta por trabalhar em São Paulo, devido, principalmente, à oferta nada desprezível de serviços privados que dispõem de planos de saúde. Segundo o estudo, em sua maioria (52,8%) os médicos trabalham concomitantemente nos setores público e privado da saúde, enquanto apenas 10,1% não tinham nenhum vínculo privado. Para os autores, “a inserção de 63% dos graduados da FMUSP em serviços públicos, porcentagem relacionada à soma daqueles com atuação pública exclusiva e em atuação público-privada, indicaria importante contribuição da instituição para o Sistema Único de Saúde”.

O estudo sobre o mercado de trabalho para os médicos formados na FMUSP, segundo os autores, “contribui para o aprimoramento das instituições formadoras e para o planejamento de políticas públicas de educação e saúde”. A pesquisa evidencia que, no Brasil, o mercado de trabalho médico se pauta tanto pelas opções e escolhas pessoais de cada profissional quanto pelas possibilidades reais de atuação no sistema de saúde vigente.

O texto ainda aponta a contradição entre os brasileiros usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), 71,5%, e os 28,5% que utilizam planos de saúde privados, contradição essa motivada pelo fato de a maioria dos médicos exercerem a medicina no setor privado, utilizado por uma minoria. A maioria da população que utiliza o SUS se ressente da falta de médicos de todas as especialidades, além da falta de equipamentos para a realização de exames e da superlotação de hospitais. Constata-se que o setor de saúde brasileiro carece de políticas públicas que consigam melhorar as condições de atendimento da maioria da população, incentivando os médicos a exercerem sua profissão nos setores públicos de saúde, oferecendo-lhes melhores condições de trabalho.

Observou-se, entre os egressos da FMUSP, predomínio de atuação na atenção hospitalar, talvez pela ligação, por várias razões, com o Hospital das Clínicas da FMUSP (HCFMUSP), e baixa inserção na atenção primária. Os autores consideram que “a maior inserção na rede de atenção primária do SUS seria desejável, considerando tratar-se de uma instituição pública, financiada por recursos públicos”. A pesquisa pode estimular e incentivar debates a respeito de mudanças que impliquem na inter-relação dos alunos de Medicina da FMUSP com a atenção primária, valorizando esse segmento do sistema de saúde.

O artigo revela a importância da elaboração de um plano de avaliação da educação em saúde que pode ser realizado com assistência e supervisão da “inserção laboral de médicos e profissionais de saúde egressos de instituições de ensino” no Brasil. A investigação colabora com os estudos já divulgados sobre o tema, na medida em que relata o cotidiano dos formandos da FMUSP depois de vários anos. A expectativa é conciliar o empenho público e social na formação profissional “com as reais necessidades do SUS universal e em benefício de toda a sociedade”.

Artigo

SCHALCH, A. S.; MATIJASEVICH, A.; SCHEFFER, M. C. Onde trabalham os médicos formados na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo? Um estudo transversal observacional. Revista de Medicina, São Paulo, v. 101, v. 1, e-182234, 2022. ISSN: 1679-9836. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v101i1e-182234. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revistadc/article/view/182234. Acesso em: 23 fev. 2022.

Contatos

Alexandre Santos Schalch – Graduando em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.alexandre.schalch@fm.usp.br

Alicia Matijasevich – Professora associada, Departamento de Medicina Preventiva, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. alicia.matijasevich@usp.br

Mario César Scheffer – Professor doutor, Departamento de Medicina Preventiva, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. mscheffer@usp.br


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