A arma secreta das universidades estaduais paulistas

Por Daniel Bargieri, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, e Helder Nakaya, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP

 07/10/2020 - Publicado há 4 anos
Helder Nakaya – Foto: Gabriel Soares
Daniel Bargieri – Foto: Arquivo pessoal

Quatro das dez melhores universidades da América Latina estão no Estado de São Paulo. São elas a USP, Unicamp, Unesp e Unifesp. É notável que 40% das dez melhores universidades de todo o continente latino-americano estejam em um único Estado. É importante, portanto, entendermos o que faz uma universidade ser boa. Claro que a formação de ótimos profissionais é motivo de orgulho para os docentes e funcionários dessas universidades, mas a verdade é que alguns anos de aulas não são suficientes para essa transformação. As universidades paulistas são excelentes justamente porque atraem alunos excelentes para seus cursos de graduação e pós-graduação. São os estudantes que fazem as universidades.

Por que alunos promissores e brilhantes são atraídos para as universidades paulistas?

Ora, é nessas universidades que reside a melhor estrutura de pesquisa do País e talvez da América Latina. Décadas de investimento em pesquisa, em laboratórios biomédicos, de física, engenharia, agronomia e em redes de pesquisa nas áreas de ciências humanas, construíram uma reputação de valor incalculável. É aqui, no Estado de São Paulo, nas nossas universidades, que reside grande parte dos pesquisadores mais proeminentes do País, de filósofos a biólogos. Eles não são necessariamente melhores professores dos que os que ensinam em faculdades particulares, mas em geral é nas universidades públicas que eles fazem pesquisa. A pesquisa de ponta desenvolvida aqui atrai ótimos alunos para fazer ciência de ponta, que atrai mais ótimos alunos do continente inteiro. É o círculo virtuoso das universidades públicas de São Paulo.

Num debate que ficou famoso, o físico americano Michiu Kaku argumentou que a ciência é o motor da prosperidade. Ele argumenta que a excelência científica dos Estados Unidos depende da existência de vistos para atrair estudantes brilhantes de outros países, o que de fato ocorre. O Estado de São Paulo também tem uma arma secreta para atrair estudantes brilhantes do Brasil inteiro. Ela se chama Fapesp. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo é a grande responsável pelas décadas de investimento em pesquisa, que resultaram na construção da estrutura de pesquisa de ponta nas universidades, que atrai ótimos alunos, que fazem as universidades serem excelentes. Esses investimentos foram possíveis graças à gestão com autonomia e de excelência da Fundação.

Neste momento, milhares de estudantes se preparam para tentar ingressar nas universidades paulistas. Milhares de pais se sacrificam para que seus filhos possam realizar o sonho de serem universitários nas melhores universidades da América Latina. Esse sonho só existe porque estudantes excelentes os precederam e porque há décadas o Estado investe em pesquisa através da Fapesp. Atração de ótimos estudantes, Fapesp e autonomia financeira das universidades são engrenagens indissociáveis que nos fizeram a casa de 40% das melhores universidades da América Latina.

O Projeto de Lei 529 que tramita na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo ameaça acabar com a autonomia financeira das universidades estaduais paulistas e da Fapesp. Algo similar é proposto pelo PL 627 de 2020 sobre o orçamento do Estado para 2021. Destruídas essas engrenagens, o círculo virtuoso das nossas universidades será implodido. No longo prazo, não haverá mais pesquisa de ponta, não haverá mais alunos brilhantes, não haverá mais universidade de excelência. Milhares de alunos que se preparam hoje e centenas de milhares que ainda estão por vir não terão mais o mesmo orgulho de estudar em nossas universidades.

Impedir que isso aconteça está ao nosso alcance. A comunidade científica tem pressionado os deputados que irão votar nestes projetos de lei, mas as universidades públicas de São Paulo e a Fapesp são patrimônio do povo paulista. Essa luta é de todos.


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