Mães narcisistas quebram o ideal da figura materna

Valéria Barbieri explica que o  narcisismo materno é caracterizado por um relacionamento abusivo que, geralmente, envolve a destruição da autoestima dos filhos

 23/07/2020 - Publicado há 4 anos
Por
Foto: Jéssika – flickr

A figura materna tende a ser vista de maneira idealizada e até mesmo sagrada pela sociedade. Por ser extremamente importante para o desenvolvimento dos filhos, muitos se esquecem que as mães são, antes de tudo, humanas, mulheres que podem cometer erros e apresentar transtornos que afetam o desempenho no papel de mãe.

A professora Valéria Barbieri, do Centro de Psicologia Aplicada da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, conta que transtornos psicológicos como o narcisismo podem ser uma das causas de comportamentos tóxicos e até cruéis de algumas mães. O narcisismo materno é caracterizado por um relacionamento abusivo que, geralmente, envolve a destruição da autoestima, confiança e autonomia dos filhos. 

Valéria explica que o transtorno ocorre, na maior parte dos casos, pela falta de um ambiente favorável para o desenvolvimento da criança. A ausência da mãe ou de uma relação saudável com ela, também são fatos que interrompem o desenvolvimento da personalidade da mãe quando criança. “Por ter a personalidade incompleta, o narcisista depende muito do olhar do outro, seja para ser admirado ou para competir, e isso pode ser refletido na relação entre mãe e filho.” 

A professora diz que no caso das mães narcisistas é comum que o filho seja visto por ela como uma extensão de seu próprio ser, no qual a mãe deposita todos os seus sonhos, vontades e frustrações. “É como se o filho tivesse vindo ao mundo para realizar os sonhos da mãe e com isso ele fica aprisionado nesta relação. A criança precisa lutar muito para ter uma existência autônoma.”

Valéria conta que também pode ocorrer um comportamento abusivo por parte da mãe, com atitudes com o objetivo de se autovangloriar. “Essa mãe não consegue se identificar com o filho, ser solidária, ou compreender suas dificuldades e sofrimentos emocionais, passando uma mensagem de que o filho não tem nada de bom a oferecer. O filho é visto como aquele que deve suprir as necessidades da mãe e, para que ele não se liberte deste papel, a mãe se torna bastante controladora.” 

A professora esclarece que é preciso responsabilidade e que não se pode classificar as mães sem informações e ajuda de um profissional da psicologia. Além disso, é necessário que as mães e os filhos busquem tratamento emocional, pois o desenvolvimento emocional da criança pode ser  seriamente comprometido e o risco de o filho desenvolver uma baixa autoestima é imenso. Além disso, as mães também necessitam de ajuda, já que esse comportamento reproduz um sofrimento relativo aos seus primeiros anos de vida.

Ouça na íntegra no player acima a entrevista da professora Valéria Barbieri.

 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.