A vida num cárcere não se resume apenas a quem está preso. Do lado de fora, há vidas em paralelo que acabam por se moldar para que as famílias venham a dar melhor assistência a seus parentes que estão reclusos. Em sua pesquisa de doutorado intitulada Jornadas de visita e de luta: tensões, relações e movimentos de familiares nos arredores da prisão, a antropóloga Natália Bouças do Lago abordou a prisão por meio das possibilidades imaginadas a partir dela e seus limites impostos em regras, relações e intervenções. O estudo foi defendido na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), com orientação do professor Julio Assis Simões, do Departamento de Antropologia Social.
“A vida dessas mulheres passa a se organizar em função da prisão”, disse a pesquisadora em sua participação no Novos Cientistas desta quinta-feira, dia 5. “Muitas viajam longas distâncias, todo final de semana. Outras chegam a mudar de cidade para ficar mais próximas de seus parentes”. O estudo de Natália seguiu os agenciamentos dessas mulheres, assim como seus limites, as desigualdades e a produção de diferenças entre mulheres marcadas pela prisão. Em suas entrevistas, a maioria delas realizadas nas filas das visitas nos presídios e em pensões localizadas nas proximidades das instituições penais, Natália passou alguns finais de semana acompanhando todos os preparativos para a realização de uma visita.