Gestão de riscos evitaria mortes, prejuízos e transtornos com chuvas

Já que condição social leva as pessoas a áreas vulneráveis, é necessário planejamento por parte do governo

 12/03/2019 - Publicado há 5 anos
Por

jorusp

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Segundo o Corpo de Bombeiros, 12 pessoas morreram em razão da forte chuva que atingiu a Grande São Paulo na madrugada e manhã de ontem. Foram vítimas de deslizamentos e afogamentos em Ribeirão Pires, Embu, São Caetano, Santo André, São Bernardo e São Paulo. Foram 123 ocorrências de quedas de árvores, 94 desmoronamentos e desabamentos e 740 chamados por enchentes e alagamentos. O Governo do Estado e a Prefeitura de São Paulo realizaram uma reunião do gabinete de crise para a continuidade dos trabalhos conjuntos para mitigar problemas relacionados a enchentes, uma força-tarefa para gerenciamento de crise. Os gastos com prevenção a inundações e obras de drenagem na capital paulista e no Estado de São Paulo não chegaram à metade do previsto nos últimos três anos. Levantamento feito pelo jornal Folha de S. Paulo mostra que a verba para drenagem era de R$ 5,3 bilhões, mas só o equivalente a 41% foram gastos.

“Entre 1% e 2% do PIB de muitos países são perdidos em deslizamentos e perdas de infraestrutura. O prejuízo humano é o mais tocante, porém existem outros”,  declarou o professor Marcos Massao Futaiespecialista em Geotecnia, da Escola Politécnica (Poli), ao Jornal da USP no Ar. A prevenção, assim, não só salva vidas, como paga seu valor, gerando economia. Fora os transtornos de convivência na cidade que podem ser evitados, como engarrafamentos, vias bloqueadas, apagões, etc.

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Zona leste alagada após chuvas – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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A urbanista Raquel Rolnik, por sua vez, volta mais na história. Segundo ela, não devemos aceitar o modelo de ocupação da grande São Paulo como algo normal. A cidade avançou sobre 1.500 km de rios e córregos, vegetações, além de estruturas geológicas diversas, sem qualquer consideração. “Quanto mais canalizado, menos espaçosa a circulação da água e maior o espaço para as construções e obras, essa é a lógica. E isso tem suas consequências”, reclama a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.

Os dois especialistas atentam à necessidade de uma gestão de riscos, embora seja quase impossível eliminá-los. Mapear as áreas mais necessárias, projetar custos. Desse modo, considerar se aquele lugar tem de ser evacuado ou não, quais as situações a se priorizar, alocando os investimentos de forma inteligente. Consegue-se efetividade na distribuição dos recursos escassos, tal como garantir a vida daquela população.

Esses cuidados, então, vão em duas direções. Raquel ressalta a importância da educação. Já que habitar áreas de risco às vezes é inevitável (são 25% do território da capital), as pessoas devem entender o ambiente no qual vivem e, a partir disso, responder aos sinais que lhes são dados, como alertas. Além disso, lembra dos efeitos do plano diretor em relação à ocupação dos espaços. Aponta o Rodoanel na zona norte como um vetor migratório para locais vulneráveis.

As áreas de risco são, acima de tudo, aquelas próximas a encostas, morros e taludes (tanto no topo como abaixo). As margens de córregos também são suscetíveis, uma vez que o aumento do nível de água pode ocasionar em erosão e consequentes desmoronamentos de barrancos. Esses locais são definidos por critérios técnicos, como mapeamento e medição de deslocamentos de terra, esclarece o professor.

Em relação às mudanças climáticas, o meio urbano terá de se adaptar aos novos regimes de chuvas, diretamente ligados à quantidade de deslizamentos. Se a tempestade fosse em janeiro ou fevereiro, quando a pluviometria é maior, os danos, provavelmente seriam maiores, argumentou Futai.

“Fica para o futuro superar esse paradoxo, as cidades envelhecem enquanto sofrem uma maior carga da população”, completa. As bombas de drenagem não podem ficar sem funcionar como ocorreu. Apesar disso, a manutenção, sozinha, não basta, deve-se investir nos locais certos de maneira precisa. São necessários vias de escoamento, piscinões, entre outros mecanismos, segundo o especialista.


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