Nos passos do Jabuti

Jean Pierre Chauvin é professor de Cultura e Literatura Brasileira da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP

 24/11/2017 - Publicado há 6 anos     Atualizado: 27/11/2017 as 11:47

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Jean Pierre Chauvin – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A Universidade de São Paulo está a celebrar um feito digno de nota. Refiro-me aos trabalhos finalistas do Jabuti, em sua edição mais recente, divulgados na imprensa em 31 de outubro deste ano. Criado em 1958, o prêmio coloca em relevo obras, autores e projetos editoriais, de diversas áreas do conhecimento, produzidos em várias modalidades e suportes (impresso e digital).

Não se trata de mera formalidade, tampouco de acontecimento restrito aos pressupostos e sendas do mercado editorial; mas do louvável registro de obras que se destacaram no cenário cultural brasileiro. A questão é muito relevante, tendo em vista as estatísticas recentes, que sugerem a persistência de um reduzido quadro de leitores, em nosso país.

Também sob esse aspecto, trata-se de comemorar a existência do prêmio e festejar a sua continuidade, especialmente em razão do objeto livro – compreendido para além do fato de ser “produto” de fetiche e consumo. Trata-se de artefato cultural, guia de bolso, manual para diletantes, pesquisadores e curiosos; companheiro do leitor em geral para diversas ocasiões.

Neste ano, cinco foram as distinções para projetos (co)editados pela Edusp – O Adolescente e a Internet: Laços e Embaraços no Mundo Virtual (em parceria com a Fapesp), de Cláudia Prioste classificou-se em segundo lugar na categoria Psicologia, Psicanálise e Comportamento; História da Teoria da Arquitetura, obra multiautoral, conquistou o prêmio de melhor Capa e o segundo posto na categoria Projeto Gráfico – ambos concebidos pelo designer Gustavo Piqueira.

Chama atenção que um manual que ensina a editar – fruto da experiência didática e profissional de um dos maiores editores do País, Plinio Martins – seja contemplado com o prêmio. Isso parece significar, entre outras coisas, o reconhecimento por sua longeva trajetória

Por sua vez, Racismo e Diversidade no Mundo Empresarial, de Pedro Jaime, obteve o terceiro lugar, em Economia, Administração e Negócios. Finalmente, o Manual de Editoração e Estilo (coeditado pela Editora da Unicamp e da UFMG), de Plinio Martins Filho, foi premiado em primeiro lugar, na categoria Comunicação.

A variedade dos temas, a relevância das obras e a presença da Editora da Universidade de São Paulo em diversas áreas e categorias relembram o papel da arte, do conhecimento e da reflexão no horizonte dos leitores. Não se trata, somente, de dar crédito a obras significativas, mas de relembrar o papel da Edusp na disseminação de obras com conteúdos de qualidade, a ilustrar (também) o máximo cuidado com que foram editadas.

Nesse sentido, chama atenção que um manual que ensina a editar – fruto da experiência didática e profissional de um dos maiores editores do País – seja contemplado com o prêmio. Isso parece significar, entre outras coisas, o reconhecimento por sua longeva trajetória.

Há que se guardar em mente que seu livro discorre não apenas sobre como fazer livros, mas revela os bastidores e segredos de um ofício que o autor continua a produzir e conduzir como poucos. Sob esse aspecto, o Prêmio Jabuti mereceria ser compreendido como homenagem: motivo de renovada alegria dos numerosos autores e obras que Plinio Martins Filho teve (e tem) oportunidade de encadernar.

A premiação de tais projetos reitera o papel indiscutível dos livros na vida universitária, o que confirma o sólido e estreito vínculo entre o pensamento e as obras que o acolhem. Ademais,  não será demasiado relembrar o papel dos livros – não exclusivamente para a comunidade universitária –, tampouco a colaboração de todos aqueles que participam das etapas de produção editorial.

De certo modo, a premiação reverbera a hipótese de que todo conhecimento produzido na Universidade tem o seu valor. O fato de profissionais de diversas áreas do saber serem contemplados com o Jabuti 2017 sugere que os livros podem ser objeto-símbolo da liberdade intelectual.

Além de ocupar lugar de honra nas livrarias, bibliotecas e demais acervos, é também por intermédio deles que o saber se expande para além dos limites do próprio campus e convida novos leitores a conhecer o que se faz, efetivamente, na Universidade: lugar desejável para o contínuo debate.

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