Grupo internacional liderado por cientista da USP revisou dados que davam suporte à hipótese proposta por outros pesquisadores, concluindo que ainda é cedo para descartar divisão atualmente aceita para os dinossauros – Foto: Marcin Chady via Wikimedia commons / CC BY 2.0
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Consórcio internacional de paleontólogos, formado por especialistas do Brasil, Alemanha, Argentina, Espanha e Reino Unido e liderados por Max Langer, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, pede cautela em relação à recente proposta de reorganizar radicalmente a árvore evolutiva dos dinossauros.
Os paleontólogos do grupo rebatem a proposta apresentada em março deste ano por Matthew Baron e colegas da Universidade de Cambridge (Reino Unido), que propuseram uma revisão fundamental do atual entendimento das relações dos principais grupos de dinossauros.
Segundo Max Langer, uma das primeiras coisas que qualquer pessoa interessada em paleontologia aprende é que os dinossauros se dividem em dois grupos, os Ornithischia (incluindo o Stegosaurus, o Triceratops, o Iguanodon e seus parentes) e os Saurischia (incluindo os terópodos predadores, como o Tyrannosaurus e o Velociraptor, e os sauropodomorfos pescoçudos, como o Apatosaurus e o Diplodocus).
Baron e os colegas de Cambridge, diz Langer, propuseram um arranjo bem diferente, com os Ornithischia e os Theropoda juntos em um grupo chamado Ornithoscelida; já os Sauropodomorpha, em uma linhagem separada. A proposta, segundo Langer, parecia bem embasada, uma vez que os autores identificaram quase vinte características compartilhadas unicamente pelos ornitísquios e terópodos, indicando que eles eram proximamente relacionados.
Mas, o grupo internacional de especialistas na origem e irradiação dos dinossauros, liderado por Langer, revisou os dados que davam suporte à hipótese de Baron e colegas e concluíram que ainda é cedo para reescrever os livros sobre dinossauros. “Nessa reavaliação, encontramos um conjunto maior de evidências, favorecendo o modelo tradicional de classificação dos dinossauros; também notamos que o modelo proposto pelo grupo de Cambridge não é muito menos provável.”
Para Langer, o trabalho do consórcio foi notável, conferindo em primeira mão esqueletos de dinossauros de todos os continentes para assegurar que seus caracteres foram corretamente avaliados. “Inicialmente, o grupo pensava em apenas levantar algumas dúvidas quanto à proposta de Ornithoscelida, mas descobrimos que a questão deve ser completamente reavaliada.”
O paleontólogo da USP em Ribeirão Preto diz que Baron e colegas sugeriram, com base em seus novos dados, que os dinossauros teriam se originado no hemisfério norte, mas com base na evidência disponível, a reanálise confirma “a ideia tradicional de que os dinossauros surgiram na porção sul do supercontinente Pangéia, possivelmente onde hoje é a América do Sul”, complementa Langer.
O professor Mike Benton, da Universidade de Bristol e membro da equipe de paleontólogos do consórcio, comenta que “em ciência, se você quer desafiar a visão consensual sobre um tema, você tem que ter evidências muito fortes. No caso da nova proposta, ela não é mais bem suportada que outros arranjos possíveis na base na árvore evolutiva dos dinossauros. Baron e colegas podem até estar corretos, mas nossa sugestão é que sigamos usando a divisão tradicional de Dinosauria em Saurischia e Ornithischia até que evidências mais convincentes estejam disponíveis”.
Langer enfatiza que, como sempre na ciência, novas e mais detalhadas investigações são a chave para responder a essas e outras questões. O mesmo vale para a paleontologia: “Como sempre na paleontologia, novos fósseis podem ser de grande ajuda nesse processo”.
As três possíveis árvores evolutivas dos dinossauros
(Imagem © Max Langer).
Com informações de Max Langer
Mais informações: (16) 3315-3844
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